Para um sacerdote que queria pouco mais do que um lugar tranqüilo para traduzir a Bíblia, William Tyndale teve aventuras incomuns em sua vida. Ele foi caçado pela Europa por agentes secretos e foi pego enquanto imprimia secretamente o seu Novo Testamento em inglês. Ele foi mais tarde seqüestrado por um espião e morto como um herege quando tinha pouco mais de quarenta anos. E tudo isso por ter traduzido a Bíblia para o inglês.
Seus superiores católicos não aprovavam o projeto. Eles o associaram ao crescimento protestante, que ensinava que a Bíblia, não a Igreja, era a voz de Deus na terra. De fato, Tyndale estava alinhado com o movimento protestante. É possível observar nos comentários inseridos na sua Bíblia e também através das suas cartas, uma relação muito estreita com os princípios da Reforma Protestante. Ao contrário do Catolicismo, o Protestantismo sempre esteve, desde a sua gênese, ligado profundamente à tradução da Bíblia.
DE SACERDOTE A FUGITIVO
Apesar de educado em Oxford e Cambridge, e então, ordenado como um sacerdote, tudo que Tyndale queria era traduzir a Bíblia das línguas originais, hebraico e grego, para o inglês. Como um lingüista talentoso, ele parecia ser a pessoa certa para aquela tarefa. Ele dominava pelo menos sete línguas, incluindo as línguas bíblicas antigas.
Em 1523, em torno dos seus trinta anos, ele foi a Londres e pediu permissão do Bispo Cuthbert Tunstall para iniciar o trabalho de tradução. Essa atitude revela astúcia, porque o Bispo era um intelectual e amigo de Erasmo, o teólogo holandês que havia publicado a primeira edição grega do Novo Testamento e que escreveu no prefácio que desejava que a Bíblia fosse traduzida para todas as línguas. Tunstall, entretanto rejeitou o pedido de Tyndale, aparentemente temendo que uma Bíblia que o povo comum pudesse entender encorajaria o movimento da Reforma iniciado por Martinho Lutero, que levou Tyndale a concluir que “não somente não havia lugar na soberania do palácio de Londres para traduzir o Novo Testamento, mas também não havia lugar para fazê-lo em toda a Inglaterra”.
Com o patrocínio financeiro do seu amigo, Humphrey Munmouth, um rico vendedor de tecidos, Tyndale saiu da Inglaterra no ano seguinte para encontrar um lugar seguro para trabalhar. Ele nunca mais voltaria à Inglaterra. Ele mudou-se para Hamburgo, na Alemanha, e, em agosto de 1525, havia concluído a tradução do Novo Testamento grego de Erasmo para o inglês. Tyndale conseguiu um impressor em Colônia, mas o trabalho de impressão foi interrompido quando os oponentes do movimento protestante atacaram a tipografia. Tyndale, entretanto soube dos planos deles, salvou as páginas que já haviam sido impressas e escapou. Uma impressora na cidade de Worms, onde havia uma mentalidade mais favorável à Reforma, completou o trabalho, e as 6.000 cópias foram contrabandeadas para a Inglaterra em barris de farinha e em peças de tecido.
QUEIMANDO A BÍBLIA E O TRADUTOR
O Bispo Tunstall ficou horrizado quando descobriu a respeito das Bíblias. Ele ordenou que todas as cópias na sua Diocese fossem queimadas. Então, secretamente, planejou comprar todo o resto da produção de Tyndale. “Os livros são errados e maldosos”, ele disse a um vendedor que ele acreditava estar envolvido com Tyndale, “e eu tenho a intenção de destruir todos eles”. O vendedor estava, sim, envolvido, mas era um amigo do tradutor. Tyndale concordou em vender as Bíblias e usar o dinheiro para pagar por edições melhores, que ele publicou em 1534 e 1535
Por essa época, Tyndale estava bem encaminhado com uma tradução do Antigo Testamento. Ele completou os cinco primeiros livros da Bíblia, bem como Jonas, e os Livros de Josué a 2 Crônicas. Um de seus amigos, Miles Coverdale, concluiu a tradução do Velho Testamento, baseada na tradução de seu companheiro. Mas ele não viveu para vê-los impressos.
Tyndale passou a mudar-se constantemente para livrar-se de agentes ingleses e da Igreja enviados para prendê-lo. Enquanto vivia em Antuérpia, Tyndale foi enganado por um agente inglês que afirmava que era a fvaor do movimento protestante que começava a tomar forma. O agente convenceu Tyndale a dar uma caminhada pela cidade. Então, quando eles entraram num beco estreito, ele sinalizou para dois soldados que o esperavam. Eles pegaram Tyndale e o levaram para a prisão estadual próximo de Bruxelas, que ficava a 16 quilômetros de distância.
Em algum momento durante o ano e meio que Tyndale passou na prisão, ele escreveu uma carta que tem muita semelhança com uma das mensagens de Paulo a Timóteo e que dá a entender que ele ainda estava trabalhando na sua tradução do Antigo Testamento. Ela foi escrita em latim e enviada a uma autoridade cujo nome é desconhecido:
Eu imploro a vossa senhoria... que peça ao comissário que tenha a bondade de me enviar, dos meus bens que ele possui, um gorro mais quente, porque tenho sentido muito frio em minha cabeça... e também um casaco mais quente, porque o que tenho é muito fino; uma peça de tecido ainda para remendar as minhas calças... Mas, acima de tudo, eu imploro... para ter a Bíblia Hebraica, a gramática do hebraico e o dicionário do hebraico, para que eu possa passar o meu tempo estudando.
Tyndale foi julgado não somente por publicar o Novo Testamento em inglês, mas também por ter um pensamento semelhante ao de Lutero. Introduções e notas nas margens de sua Bíblia revelaram a sua teologia. Ele acreditava na salvação através da fé, não através da Igreja. Ele negava a existência do purgatório. Ele argumentava que a virgem Maria e os santos não intercediam por nós e que não deveríamos orar para eles.
Em agosto de 1536, Tyndale foi condenado como culpado de heresia. Dois meses depois ele foi acorrentado a uma estaca onde um executor publicamente o estrangulou com uma corda e, então, queimou o seu corpo. Suas últimas palavras foram: “Senhor, abra os olhos do Rei da Inglaterra”, e enquanto ele falava, o clima estava mudando na Inglaterra. O Rei Henrique VIII, que havia sido incapaz de assegurar a aprovação do Papa para divorciar-se de Catarina de Aragão, sua “vaca espanhola”, estava se afastando da Igreja Católica.
Um ano depois da morte de Tyndale, Bíblias que revelam forte influência do trabalho dele começaram a ser distribuídas na Inglaterra, com a aprovação do Rei. Na verdade, o trabalho de Tyndale foi a base para a tradução da maioria das traduções da Bíblia inglesa. O famoso biógrafo, David Daniell, estima que 83% do Novo Testamento na versão King James foram retirados da obra de Tyndale. Em dois anos, todas as paróquias foram encorajadas a ter uma cópia para o seu povo. E, dentro de cinco anos, as igrejas pagavam multas se não cumprissem a ordem.
“Se Deus poupar a minha vida por alguns anos, farei de tudo para que um menino que correr atrás do arado saiba mais da Bíblia do que vocês”.
William Tyndale falando ao clero.
4 comentários:
Olá! achei muito interessante esse artigo sobre o Tyndale e o seu trabalho de tradução da Biblia e martirio! programei para ser republicadono meu blog dia 12!
Abraços
armando Marcos(http://armandomarcos.blogspot.com/)
Olá Armando. Que bom que você gostou. Pode postar no seu blog. Espero que o texto abençoe outras pessoas.
A paz
Judiclay
PRECISO SABER SE A BIBLIA QUE FOI QUEIMADA FOI SO O NOVO TEXTAMENTO OU OS DOIS VELHO E NOVO OK? fcaluvas@yahoo.com.br EV. FRANCISCO
Tyndale foi um dos mais importantes personagens da Reforma, apesar de seu nome ser tão pouco mencionado.
Na verdade, devemos muito à sua obra de tradução do Novo Testamento.
Bíblias de hoje possuem a vida de Tyndale testemunhada como prova da obra do Espírito no coração dos Homens.
Assim se cumpre o que foi dito: "Mas, antes de todas essas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões e conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por amor do meu nome. "
"E vos acontecerá isso para testemunho. " (Lucas 21:12,13)
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