quarta-feira, 15 de abril de 2009

KARL BARTH E A FEBRE DA RELEVÂNCIA

Ser relevante é o sonho de consumo de muitas igrejas e seus pastores. Essa ânsia tem afetado diretamente a agenda da igreja e do ministério pastoral. Recordo-me de ter ouvido um afamado conferencista brasileiro dizer em alto e bom som (para o entusiasmo de muitos): “Púlpito não é lugar de ensinar doutrina, mas de explicar a vida”. Até hoje não sei como esse indivíduo consegue explicar a vida sem acessar as doutrinas cristãs. Mas o fato é que esse tipo de pensamento ganha cada vez mais adeptos. Em todo lugar, como uma epidemia, pastores e líderes querem a todo custo ser relevantes na sociedade. O leitor deve estar se perguntando: Qual o problema de querer ser relevante? Acompanhe o raciocínio.

Todo cidadão, sobretudo aqueles que exercem liderança, precisam estar informados dos acontecimentos e interpretá-los a partir de uma cosmovisão bíblica. O pastor não deve isolar-se e fazer da sua congregação um compartimento hermeticamente fechado. Na contramão desse tipo de postura, o notável teólogo alemão, Karl Barth, disse que os pastores e pregadores precisavam andar com a Bíblia em uma mão, e o jornal na outra. Ele estava certo. Indubitavelmente a Bíblia comunica verdades proposicionais de Deus através da história e o jornal expõe os acontecimentos do dia a dia. O desafio do pregador, entre outras coisas, é criar uma ponte entre o mundo bíblico e o mundo contemporâneo. Anunciar as verdades eternas fazendo aplicações práticas que tenham correlação com a vida das pessoas.

Todavia, o que temos visto, não é apenas o legítimo interesse pela informação, mas a corrupção do propósito dessa informação. No afã de trazer uma mensagem “atual” muitos estão padecendo da febre da relevância. Um fenômeno que está transformando o púlpito em uma espécie de balcão de informação. Alguns pastores surpreendem a congregação com uma desenvoltura jornalística de causar inveja em muitos profissionais de comunicação. Soube de um pastor que após o início da famigerada “crise financeira internacional” passou semanas ensinando a igreja acerca do mercado financeiro mundial. Isso incluiu um tour pela gênese das bolsas de valores, a história do sistema bancário global e temas afins. A Mirian Leitão e os demais comentaristas econômicos que se cuidem! Esses pastores são demais.

ESSA FEBRE PEGA, MAS TEM CURA.
Um dos episódios mais marcantes na vida de Karl Barth, sem dúvidas um dos mais notáveis teólogos do cristianismo, se deu logo após a eclosão da terrível Primeira Guerra Mundial, em 1914. Diante de uma situação tão terrível, Barth, à época sofrendo da febre da relevância, correu para o púlpito e por semanas falou sobre a violência da Guerra. Muitos diriam: “Que maravilha! É de pastores assim que a igreja precisa. Homens antenados com o que acontece no mundo. Gente bem informada!”

Ora, segundo a mentalidade relevanciana, somente um fundamentalista interiorano, insensível e obtuso pregaria sobre a soberania do Deus Eterno e a sua santa e sábia providência. Em um momento crítico como aquele só mesmo os tolos reacionários falariam sobre a encarnação, morte, ressurreição e exaltação de Cristo. “Isso não!” diria os adoradores da relevância. “Deixemos de lado essa coisa de arrependimento, confissão, santidade e esperança na volta triunfal do Senhor Jesus, o Filho de Deus”.

A realidade é que para os sedentos por relevância, a Bíblia é apenas ponto de partida para exposição de suas idéias sobre como criar um paraíso na terra. A cruz de Cristo, a gloriosa bandeira do evangelho, tem sido hasteada e lamentavelmente substituída pelo pano de chão das frivolidades. Embora haja temas e questões que tem importância e devem ser objetos de reflexão, nada é mais sublime e necessário para a vida da igreja do que a pessoa bendita de Jesus Cristo.

Karl Barth compartilha conosco em um de seus sermões, a sua experiência com a febre da relevância. “Em 1914, quando a eclosão da guerra deixou o mundo todo sem fôlego, senti-me obrigado a permitir a entrada dessa violência da guerra em todos os meus sermões até que finalmente uma mulher veio a mim e me suplicou que apenas uma vez eu falasse sobre alguma outra coisa e não constantemente sobre esse conflito terrível. Ela estava certa! Eu havia vergonhosamente esquecido a importância da submissão ao texto... Toda honra a relevância, mas os pastores deveriam ser bons atiradores que miram suas armas acima do monte da relevância”.

É BOM LEMBRAR...
No primeiro século da era cristã, Jesus dá início ao seu ministério público indo para Galiléia, uma região de gente pobre (com um baixo Índice de Desenvolvimento Humano, segundo os jornais da época) e analfabeta. Os galileus, cujos problemas sociais e econômicos eram reais e perceptíveis, tiveram o privilégio de ouvir o primeiro sermão de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado. Marcos registrou o escopo da mensagem: “(...) foi Jesus para Galiléia pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. (Marcos 1.14,15) Coitado dos oprimidos. Além de sofrerem terríveis males sociais, ainda vem esse tal de Jesus falando sobre arrependimento, diria alguém. Mas a história testemunha que aqueles que compreenderam a mensagem de Jesus, (naqueles dias e ainda hoje), tiveram suas vidas transformadas como nenhuma revolução política ou reforma social jamais poderia realizar.

A mensagem dos apóstolos do Senhor Jesus era essencialmente uma: “nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gregos” (1 Co 1.23). Estranha pregação! Tendo em vista que à época havia aproximadamente 60 milhões de escravos no império romano soa como inadmissível não falar de justiça social. Por que a igreja não foi mobilizada para fazer passeata em protesto contra escravatura?

Creio que os apóstolos de Jesus Cristo seriam acusados de serem pregadores irrelevantes, para não dizer, irresponsáveis e negligentes, caso vivessem nos dias atuais. Mas curiosamente, foi anunciando a irrelevante mensagem da cruz, ainda hoje loucura para os gregos e escândalos para os judeus, que eles humanizaram a desumana sociedade romana. O cristianismo revolucionou o mundo com uma mensagem que os filósofos e todos os doutos da época reputavam como sendo insignificante, abominavelmente irrelevante. A mensagem cristã parecia fascinar apenas os pobres e incautos, estigmatizados como massa ignara.

A ironia é que para ser realmente relevante, a igreja precisa anunciar a mensagem que o mundo julga, a despeito do favorável testemunho da história, como sendo irrelevante. A pregação das insondáveis riquezas de Cristo é o único poder efetivamente transformador. Todo restante é fiasco filosófico sepultada pela história com o epíteto de utopia fracassada.

Karl Barth se mostrou curado da febre da relevância ao dizer: “A igreja não é uma ferramenta para sustentar o mundo ou para promover o seu progresso. Ela não é um instrumento para servir ao velho ou ao novo. A igreja e a pregação não são ambulâncias no campo de batalha da vida.”

Senhores, cuidado com a febre da relevância.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O ESPÍRITO CALVINISTA E O ESPÍRITO BRASILEIRO

Há algum tempo chegou-me às mãos o livro – A Riqueza e a Pobreza das Nações, escrito por David S. Landes, professor emérito de história e economia política na Universidade de Harvard. Seu propósito ao escrever foi o de tentar responder a difícil e necessária questão: por que algumas nações são ricas e outras são pobres?Landes, pôde perceber nas suas pesquisas, que há certa uniformidade no comportamento das nações pobres e das nações ricas. Esses destinos diferentes não podem ser atribuídos ao acaso. Existem razões para a riqueza e a pobreza dos povos. Estas explicações têm relação direta com o nível de assimilação por parte dessas mesmas nações de certas leis, que são conducentes ao desenvolvimento de um país. Ao mesmo tempo, leis que se não forem respeitadas, fazem com que países inteiros paguem um tributo social altíssimo.

Sendo assim, convém salientarmos o primeiro ponto: nessa busca por explicações com base na realidade dos fatos, o escritor da renomada universidade, encontrou um comportamento uniforme, conforme já mencionei, tanto nas nações que se tornaram ricas, quanto nas nações que se tornaram pobres. As causas são múltiplas - clima, geografia, papel do estado, educação, abertura intelectual, curiosidade, espírito empreendedor, capacidade de aperfeiçoar as coisas, iniciativa privada, entre outros tantos fatores mais. Entre eles, a religião. É este o ponto que gostaria de enfocar.

Nas suas análises comparativas entre os povos ricos e pobres, Landes encontrou diferenças em termos de prosperidade entre as próprias nações européias. Essas diferenças não fazem parte apenas dos contrastes existentes entre primeiro, segundo e terceiro mundo. Elas existem na Europa. Chamou sua atenção o fato do sul do continente europeu não ter alcançado o mesmo tipo de progresso que foi atingido pelo norte. Como explicar o atraso de Portugal e Espanha (agora minimizado pela inclusão de ambos na União Européia)? Nações que um dia foram as donas dos oceanos. Exploradoras de territórios imensos no mundo todo. Não se curvando a tese de que o clima representa a melhor explicação (já que há diferenças climáticas entre ambas as regiões, o norte mais frio do que o sul) – “Esses estereótipos contêm um grama de verdade e um quilo de pensamento indolente”, Landes acredita que a melhor solução para questão tem relação com a emergência do protestantismo, especialmente o de linha calvinista na Europa setentrional.

O escritor americano começa por mencionar a explicação dada pelo cientista social alemão Max Weber. Ao publicar em 1904-1905 – A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber expressou o seguinte ponto de vista, apresentado resumidamente por Landes: “o protestantismo – mais especificamente, suas ramificações calvinistas – promoveu a ascensão do capitalismo, ao definir e sancionar uma ética de comportamento cotidiano que conduzia ao sucesso nos negócios”. Para Landes, o calvinismo produziu um código secular de comportamento: trabalho perseverante, honestidade, seriedade, uso parcimonioso do dinheiro e do tempo (ambos concedidos por Deus) – “Todos esses valores ajudam os negócios e a acumulação de capital, mas Weber sublinhou que o bom calvinista não visa às riquezas... a tese de Weber é que o protestantismo produziu um novo tipo de homem de negócios, um diferente tipo de pessoa, que tinha por objetivo viver e trabalhar de um certo modo. Esse modo é que era importante e a riqueza seria, quando muito, um subproduto”.

Landes menciona como exemplo, as atitudes protestante e católica em relação aos jogos de azar no começo do período moderno: “Ambas o condenaram, mas os católicos condenaram-nos porque uma pessoa poderia perder (perderia) e nenhuma pessoa responsável comprometeria seu bem-estar e o de outros dessa maneira. Os protestantes, por outro lado, condenaram os jogos porque uma pessoa poderia ganhar, e isso seria ruim para o seu caráter”. Ele traz a memória de todos, o ponto de vista sobre a ética puritana do historiador social inglês R. H. Tawney no seu livro – Religião e Ascensão do Capitalismo: “Esta protegeu os comerciantes e fabricantes contra as pedras e flechas de desprezo das classes altas e seus códigos de bom-tom. Deu-lhes um sentimento de dignidade e virtude, um escudo num mundo de preconceitos anticomerciais. E assim, não cedendo a tentação do ócio aristocrático, os bons calvinistas mantiveram-se fiéis à sua tarefa de geração para geração, acumulando riqueza e experiência pelo caminho”.

Já o sociólogo Robert K. Merton, argumentou a favor da existência de um vínculo direto entre o protestantismo e o nascimento da ciência moderna. Landes lembra que não foi Merton o primeiro a defender essa tese – “No século XIX, Alphonse de Candolle, de uma família huguenote de Genebra, procedeu a um levantamento segundo o qual dos 92 membros estrangeiros eleitos para a Academia de Ciências francesa no período de 1666-1866, 71 eram protestantes, 16 católicos e os cinco restantes judeus ou de filiação religiosa indeterminada – isto numa população de 107 milhões de católicos e 68 milhões de protestantes fora da França. Uma contagem semelhante de membros estrangeiros da Royal Society de Londres em 1829 e 1869 mostrou igual número de católicos e protestantes num conjunto em que os católicos superavam numericamente os protestantes em mais de três para um”.

Para os que julgam as teses de Weber implausíveis ou inaceitáveis, Landes apela para os dados empíricos sacados da história: “... a documentação nos mostra que mercadores e fabricantes protestantes desempenharam um papel destacado no comércio, nos negócios bancários e na manufatura. Nos centros fabris (fabriques) da França e da Alemanha Ocidental, os protestantes eram tipicamente os empregadores, e os católicos os empregados. Na Suíça, os cantões protestantes eram os centros da indústria manufatureira de exportação (relógios, maquinaria, têxteis); os católicos eram primordialmente agrícolas. Na Inglaterra, que em fins do século XVI era preponderantemente protestante, os dissidentes (leia-se calvinistas) eram ativos e influentes, de um modo desproporcional, nas industrias fabris e nas forjas da nascente Revolução Industrial”.

Landes não se contenta apenas com a apresentação das provas empíricas. Ele parte para o nível teórico também: “A questão essencial consiste, com efeito, na criação de um novo tipo de homem – racional, metódico, diligente, produtivo. Essas virtudes, embora nada tivessem de novas, tampouco se podia dizer que fossem moeda corrente. O protestantismo generalizou-as entre os seus adeptos, que julgavam uns aos outros pela conformidade a esses padrões... características especiais dos protestantes refletem e conformam essa ligação... a ênfase sobre a instrução e a cultura, tanto para moças quanto para rapazes. Isso era um subproduto da leitura da Bíblia. Esperava-se que os bons protestantes lessem a Sagrada Escritura para si mesmos. (À guisa de contraste, os católicos foram catequizados mas não tinham que ler, e eram explicitamente desencorajados a ler a Bíblia.) O resultado: maior número de pessoas instruídas e um maior pool de candidatos para a escolaridade de níveis superiores; também maior garantia de continuidade de instrução de geração para geração. Mães instruídas fazem a diferença”.

Foi impossível continuar a leitura do livro sem parar para pensar no Brasil. E temos que admitir – parar para pensar sobre o Brasil é parar para pensar sobre a história de um dos maiores desperdícios que a humanidade já viu. Desperdício de terra, beleza natural, circunstâncias históricas favoráveis e patrimônio humano. Sim, o Brasil é um desperdício. Desperdício de terra. Poluímos nossos rios, sujamos nossas praias, devastamos nossas florestas. Desperdício de beleza natural. Parte do que era belo se tornou feio ao ter contato com o povo brasileiro. Nossas cidades não estão à altura da formosura da natureza que nos cerca. São cidades sujas, sem graça, mal planejadas e cercadas de favelas. Desperdício de circunstâncias históricas favoráveis. Não passamos por nenhuma tragédia natural, nossa nação jamais soube o que significa ter que se erguer da devastação de uma guerra, nossos campos jamais se recusaram dar-nos o pão. Encontramos, contudo, pessoas vivendo na miséria no Brasil. A nação onde mais se mata, onde pune-se menos. A primeira em defasagem social. Não há país com tamanho fosso entre ricos e pobres. Desperdício de patrimônio humano. Somos milhões. Resultado de uma história da miscigenação racial das mais lindas da trajetória humana. Alemães, italianos, japoneses, portugueses, árabes, índios, africanos, poloneses, todos morando num mesmo país, falando uma mesma língua, casando uns com os outros e trazendo para nosso país toda sua riqueza genética e cultural. Mas, percebe-se que no contato com a nossa terra as coisas parecem se atrofiar. São milhões de brasileiros que recusam-se a estudar. Uma perda irreparável de neurônios. Domesticados por uma cultura que ensina a mentir, a ser impontual, a deixar para amanhã o que deve ser feito hoje, a trabalhar de modo desleixado, entre tantas mazelas mais que envergonham, ou deveriam envergonhar a todos nós.

Jogamos a culpa na genética (como se fôssemos uma sub-raça), na globalização (como se ela fosse responsável pelo desabamento do metrô de São Paulo e da marquise de um hotel em Copacabana), nos países desenvolvidos (quando vemos a Coréia do Sul e o Chile não precisando se fazer valer dessa espécie de racionalização), na colonização (como se os portugueses tivessem deixado de conduzir os rumos do país no mês passado), em karma (crença infeliz, que nos leva a dizer que nessa vida pagamos pelos erros praticados numa vida da qual não nos lembramos). Em suma, nos recusamos a encarar nossas deformidades. Julgamo-nos o povo gente boa, apesar de sermos os campeões mundiais em assassinato e disparidade social.

Não há como deixar de pensar na igreja. Os evangélicos. Povo ao qual pertenço e que Deus usou para levar-me a Cristo. Por que a igreja evangélica brasileira tem se demonstrado incapaz de salvar o brasileiro do Brasil? Qual a razão de vermos em nossas igrejas pessoas mais brasileiras do que cristãs? Onde estão os resultados históricos que costumam fazer parte da passagem do protestantismo por uma nação?

Quero dizer que tenho esperança. Eu não estou aqui para reclamar da vida. Não suporto a crítica que não vem acompanhada de resposta. Não é da essência da fé cristã fazer apresentação de problemas sem apresentar esperança. Minha esperança consiste no sonho de um dia ver o calvinismo - "o cristianismo que se achou" - entrar no sangue do povo evangélico brasileiro. Nesse dia a igreja haverá de ser salva do Brasil e o Brasil salvo de si mesmo.
Antônio Carlos Costa

quinta-feira, 9 de abril de 2009

“... PORQUE CRISTO, NOSSA PÁSCOA, JÁ FOI SACRIFICADO” 1 Co 5.7b

No crepúsculo da tarde do dia 14 de Nisã, primeiro mês do calendário judaico, cada família em Israel celebrava a libertação da nação da escravidão do Egito. A Páscoa era a primeira e a mais importante festa do povo hebreu. Flávio Josefo, notável historiador judeu, afirma que 250 mil cordeiros eram sacrificados na ocasião da Páscoa. Tudo isso em um espaço de 2 horas, o que exigia o trabalho de aproximadamente 600 sacerdotes. O templo se transformava em um rio de sangue, uma evidência contundente da gravidade do pecado. Um animal era sacrificado em lugar do pecador, assumindo a culpa e recebendo o castigo devido ao transgressor da Lei. As Escrituras ensinam que “... sem derramamento de sangue não há remissão de pecados.” (Hb 9.22).

Todavia, o sangue de todos esses animais não podia expiar o pecado, isto é, cancelar a culpa do pecador “porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados” (Hb 10.4). Os cordeiros oferecidos em holocausto, apenas simbolizavam o sacrifício perfeito e definitivo que o próprio Deus providenciaria para remover os pecados do seu povo.

Séculos depois, quando Jesus apareceu no deserto da Judéia, João Batista afirmou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29). Cristo, através de sua morte substituta, penal e vicária garantiu definitivamente a redenção do seu povo. As Escrituras ensinam que a morte de Cristo não foi um acidente, mas a execução de uma operação de resgate planejada na eternidade.
Por isso, o cristão, na contramão dessa cultura alienada e totalmente ignorante acerca dessas preciosas verdades, deve celebrar a Páscoa tendo em mente as palavras de Pedro: “... portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.” (1Pe 1.17-21)

Louvamos a Deus pelo privilégio de celebrar a Páscoa, que simboliza a libertação do povo de Deus da escravidão do pecado. Ao celebrarmos a Ceia do Senhor, o fazemos em memória de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que morreu a nossa morte para que vivêssemos a sua vida.