domingo, 31 de agosto de 2008

Os Puritanos e a Prática da Oração

Sete princípios para quem crê que orar é mais do que listar necessidades
por

Ricardo Barbosa de Sousa, ministro presbiteriano

O puritanismo foi um movimento de renovação do século 16. A expressão puritano apareceu pela primeira vez por volta de 1560 para identificar aquele que não acreditavam que a rainha Elizabeth promovera uma reforma verdadeira na Igreja da Inglaterra. Eles não eram separatistas, mas não aceitavam as imposições da coroa, nem da Igreja oficial. Viveram num período de conflito e buscavam uma espiritualidade profundamente sustentada na doutrina bíblica e, neste caso, calvinista, mas também profundamente pessoal.
Para os puritanos, a experiência religiosa pessoal não tem origem no homem, mas em Deus e seu chamado. A conversão é uma necessidade. É a resposta do homem ao chamado de Deus, que nos convida a total dedicação e obediência ao propósito divino. No entanto, a pessoalidade na experiência religiosa não implicava uma espiritualidade individualista, mas comunitária. Para os puritanos, Deus fez uma aliança com sua Igreja e não apenas com indivíduos. Como no Velho Testamento, Deus aliançou-se com Israel como pessoa e com Israel como povo. O puritanismo não conhece espiritualidade solitária.
A contribuição do puritanismo à espiritualidade cristã é, sem dúvida, uma das mais ricas da história. John Bunyan (1628-1688) foi um destes mestres do puritanismo que nos legou, entre outros escritos, O peregrino, sua obra mais popular, que trata alegoricamente, da peregrinação do cristão neste mundo ruma à pátria celestial. Mas também é de Bunyan um dos conceitos mais ricos sobre o significado da oração para a experiência cristã. Em um de seus livros, Bunyan mostra como os puritanos associavam oração com missão e vida comunitária.
Ele escreve: "Oração é um sincero, sensível e afeiçoado derramar do coração ou alma a Deus, através de Cristo, no poder e assistência do Espírito Santo; tais coisas, como Deus tem prometido ou de acordo com a sua Palavra, existem para o bem da Igreja com submissão em fé para com a vontade de Deus". Nessa definição encontramos sete elementos que caracterizam a oração segundo John Bunyan.

Primeiro, a oração é um sincero derramar do coração e da alma diante de Deus. Sinceridade é uma virtude essencial na experiência de oração. O salmista afirma: "Se no meu coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido". Por esta razão, Jesus orienta seus discípulos a entrarem no quarto e fecharem a porta para orar. No silêncio secreto do quarto não tenho como usar as máscaras da minha falsidade. A sinceridade nos leva a dizer a Deus o que realmente somos, a confessar nossos pecados e celebrar o perdão e a graça sem os equívocos comuns das nossas ilusões. O profeta afirma que "enganoso é o coração", que nem sempre conhecemos as verdades secretas da nossa alma. A oração é a experiência que nos leva de volta para dentro de nós mesmos. Não há como contemplar a Deus em sua verdade e a luz sem olhar com sinceridade para nossa própria alma. Se não há sinceridade na nossa oração, se não há este derramar de alma e coração diante de Deus, é porque ainda não nos colocamos de fato diante de sua santíssima presença.

Segundo, a oração é um sensível derramar da alma diante de Deus. A sensibilidade tem muito a ver com nossa humanidade, com nossos sentimentos mais nobres e profundos. A sensibilidade humana tem muitas faces. Às vezes, somos sensíveis em relação a nós mesmos, percebendo aspectos de nossa vida que nos levam a uma profunda comoção. Outras vezes, somos sensíveis aos outros, a suas necessidades secretas, dores e sofrimentos. Também somos sensíveis à graça de Deus, Seu amor eternos, Sua misericórdia renovada todos os dias, Seu perdão, aceitação e salvação. A oração toca as áreas mais sensíveis da vida e apresenta a vida diante do seu criador. Simeão, o novo teólogo, que viveu na virada do século 10 para o século 11, afirmou que o dom mais precioso do Espírito Santo é o dom das lágrimas, aquele que nos leva a chorar por nós e pelos outros, a tornar nosso coração mais sensível e humano em nossas relações com Deus e o próximo. Jesus compadeceu-se de nós porque sofreu nossas dores, tornou-se pecado por nós, chorou por nós. O consolo é uma dádiva de Deus para aqueles que choram, que são sensíveis.

Terceiro, a oração é um afeiçoado derramar da alma diante de Deus. Os afetos têm a ver com nossos sentimentos e desejos. A oração, longe de ser simplesmente a apresentação de uma lista de nossas necessidades, é o derramar da alma cheia de desejos e sentimentos diante de Deus. Agostinho disse que se quiséssemos conhecer alguém não deveríamos perguntar o que faz, mas o que mais ama, porque é no amor que a pessoa demonstra seus desejos mais profundos e verdadeiros. Quando nos aproximamos de Deus em oração, qual é nosso maior desejo? Que sentimento mais arde na alma?

Quarto, e o derramar do coração diante de Deus, através de Cristo, no poder e assistência do Espírito Santo. É a mediação do Filho que torna possível clamar "aba", de chamar Deus de Pai pelo mesmo nome que o Filho chamou. Se pela mediação de Cristo nos tornamos filhos adotivos do mesmo Pai, conseqüentemente tornamo-nos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo dos benefícios que o Filho eterno goza. Estes benefícios não se tratam da vida prospera que muitos pensam, mas da imagem de Jesus Cristo. É pelo Espírito Santo que esta declaração "aba" torna-se possível. Ele clama em nossos corações "aba" e estabelece um vinculo único com o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

Quinto, é o derramar do coração a Deus, através de Cristo, no poder do Espírito Santo, como Deus tem prometido e de acordo com Sua Palavra. A oração é verdadeira somente quando é feita de acordo com a Palavra de Deus. Teófano, o recluso, dizia que, se queremos saber se oramos corretamente, não devemos perguntar se nossas emoções ou intelecto tiveram suas necessidades atendidas, mas se nos tornamos mais obedientes a Deus. Se a resposta for sim, se obedecemos mais a Deus e a Sua Palavra, nossa oração alcançou seu efeito. Se a resposta for não, mesmo que tenha satisfeito nossas exigências emocionais e intelectuais, não oramos corretamente.
Sexto, para o bem da Igreja. A aliança de Deus não é apenas com indivíduos, mas também com o seu povo, Sua Igreja. Nossa oração é dirigida a um Pai que é "nosso pai", e isso nos remete ao fato de que toda a família de Deus está sempre incluída em seus propósitos eternos. Mesmo nossas necessidades mais íntimas fazem parte dos propósitos de Deus para Seu Reino e Igreja. Da mesma forma que o Filho nada fazia de si mesmo ou para si mesmo, mas fazia tudo pelo e para o Pai, assim também nós nos unimos ao Pai pela mediação do Filho pra realizarmos aqui a missão a que o Filho nos comissionou. A oração de Jesus em João 17, bem como as orações de Paulo, mostram esta preocupação com a Igreja, seu bem-estar e crescimento em graça. "E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas mais excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo, cheios de fruto de justiça, o qual é, mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus" (Fp 1.9-11). O propósito da oração nunca somos nós ou nossos interesses, mas sim Deus e Seus propósitos eternos".

Sétimo, em submissão e fé na vontade de Deus. O profeta Isaías fala da necessidade de convertermos nossos pensamentos e caminhos a Deus porque os caminhos de Deus não são os nossos, nem os Seus pensamentos os nossos. A oração é basicamente a conversão dos nossos pensamentos e caminhos, a renúncia deles para abraçar os que são de Deus. Não oramos para que Ele viabilize nosso caminho, mas para que sejamos convertidos ao Seu.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

MUSEU DO IPIRANGA


Há três anos tive o privilégio de conhecer um dos mais belos museus do Brasil. O museu do Ipiranga é um lugar muito lindo, com uma arquitetura de encher os olhos. O jardim é um espetáculo, meu filho que o diga. O acervo é de uma riqueza singular. Se você tiver a oportunidade de ir a São Paulo, não deixe de visitar o Museu do Ipiranga.

Segue abaixo um pouco da história desse patrimônio do Brasil.

O Museu Paulista da Universidade de São Paulo, conhecido como Museu do Ipiranga, é o mais importante museu da Universidade de São Paulo e um dos mais visitados da cidade de São Paulo. É responsável por um grande acervo de objetos, mobiliário e obras de arte com relevância histórica, especialmente aquelas que possuem alguma relação com a Independência do Brasil e o período histórico correspondente. Uma das obras mais conhecidas de seu acervo é o quadro de 1888 do artista Pedro Américo, "Independência ou Morte".
O arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi foi contratado em 1884 para realizar o projeto de um monumento-edifício no local onde aconteceu o evento histórico da Independência do Brasil, embora já existisse esta idéia desde aquele episódio

EDIFÍCIO.

O edifício tem 123 metros de comprimento e 16 metros de profundidade com uma profusão de elementos decorativos e ornamentais. O estilo arquitetônico, eclético, foi baseado no de um palácio renascentista, muito rico em ornamentos e decorações. A técnica empregada foi basicamente a da alvenaria de tijolos cerâmicos, uma novidade para a época (a cidade ainda estava acostumada a construir com taipa de pilão). As obras encerraram-se em 15 de novembro de 1890, no primeiro aniversário da República. Cinco anos mais tarde, foi criado o Museu de Ciências Naturais, que se transformou no Museu Paulista. Em 1909, o paisagista belga Arsênio Puttemans executou os jardins ao redor do edifício. Este desenho de jardim foi substituído, provavelmente nos anos 20, pelo paisagismo do alemão Reinaldo Dierberger, desenho que se mantém, em sua maior parte, até os dias atuais.

ACERVO

O Museu Paulista tem em seu acervo de mais de 125 mil artigos, entre objetos (esculturas, quadros, jóias, moedas, medalhas, móveis, documentos e utensílios de bandeirantes e índios), iconografia e documentação arquivística, do século XVI até meados do século XX, que servem para a compreensão da sociedade brasileira, com especial concentração na história de São Paulo. Os acervos têm sido mobilizados para as três linhas de pesquisa as quais o museu se dedica:
· Cotidiano e Sociedade
· Universo do Trabalho
· História do Imaginário

O acervo do Museu Paulista tem sua origem em uma coleção particular reunida pelo coronel Joaquim Sertório, que em 1890, foi adquirida pelo Conselheiro Francisco de Paula Mayrink, que a doou, juntamente com objetos da coleção Pessanha, ao Governo do Estado. Em 1891, o presidente do Estado, Américo Brasiliense de Almeida, deu a Alberto Löefgren a incumbência de organizar esse acervo, designando-o diretor do recém-criado Museu do Estado. As coleções, ao longo dos mais de cem anos do museu, sofreram uma série de modificações com o desmembramento de parte de seus acervos e incorporações.E batatas
O acervo do museu se encontra tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.

AS DIMENSÕES DO AMOR DE CRISTO

O apóstolo Paulo orou para que os cristãos efésios pudessem “compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o cumprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo que excede todo entendimento...” Efésios 1.18-19. Toda terminologia usada por Paulo nesses versos sugere imensidão. À luz das Escrituras podemos deduzir quatro grandes verdades sobre o amor de Cristo.

(1) Sua largura alcança a totalidade da humanidade. Povos de todo mundo têm sido alcançados pelo maravilhoso amor de Cristo. 'Deus amou o mundo de tal maneira que Deus seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça mais tenha a vida eterna" (João 3.16). Deus amou a humanidade e o seu amor está estanpando na face amável de Cristo. Portanto, adoraramos o Cordeiro de Deus dizendo: “Digno és... com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua e nação”.

(2) Seu comprimento abrange todos os tempos e dura por toda a eternidade. O comprimento aqui comunica a idéia do caráter infindável do amor de Cristo. Quando falamos do amor de Cristo precisamos ter em mente que estamos falando de algo que sempre existiu, pois Cristo é o Verbo Eterno. “Como amor eterno eu te amei”, diz o Senhor. (Jr 31.3). Ora, se o amor de Cristo é desde a eternidade, sempre existiu. Seu amor é eterno, como eterno é o Senhor.

(3) Sua profundidade foi às últimas conseqüências e alcança o mais vil pecador. A encarnação do Deus Filho e a sua morte na cruz revelam a profundidade do seu amor. Levando em consideração o fato de que Cristo morreu por pecadores, devemos concordar com Salomão Ginsburg em seu belo hino: “seu amor aos homens perdidos das maravilhas é sempre a maior” (Hino 7 CC).

(4) Sua altura estende-se até os céus e nos leva até aos céus. Perde muito quem limita a salvação em Cristo com a experiência do perdão. É certo que ele morreu para nos perdoar, mas isso não é o fim, é o início. Ele nos amou para que pudéssemos estar com Ele e contemplar a sua glória. Jesus orou: “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória”. João 17.24

A maior glória da vida cristã é conhecer o amor de Cristo. Que Deus nos conceda esta graça!

UMA ORAÇÃO AO ESPÍRITO DA GRAÇA


Por Anselmo de Canterbury (1033-1109), notável servo de Deus

"Vem, Espírito Santo, vem mestres dos humildes e juiz dos altivos. Vem esperança dos pobres, conforto dos cansados. Vem Espírito Santo, comisera-te de nós. Prepara-nos para a tua obra. Preenche nossa pobreza com o teu poder, vem de encontro à nossa fraqueza com a plenitude de tua graça".

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Como é que você começa o seu dia?


“Esteja pronto pela manhã para subir ao monte Sinai. E lá mesmo, no alto do monte, apresente-se a mim.” Ex 34.2 (NVI)

Pare e pense! Como é que você começa o seu dia? A resposta a essa pergunta é importante, pois pode esclarecer como vai a sua vida com Deus. O texto acima citado é uma chamada à comunhão com o Senhor nas primeiras horas do dia. Muitos estão conscientes dessa vital necessidade e até se sentem chamados pelo Espírito de Deus a buscá-lo logo de manhã. No entanto, não são poucos os que negligenciam essa santa vocação. Após um dia inteiro de atividades, dormem cansados e fisicamente indispostos a buscar a Deus. Ao acordar, diante dos “afazeres”, não têm tempo para “gastar” com Deus. John Bunyan, conhecido pastor batista do século XVII, dizia que “aquele que foge de Deus de manhã, não o encontrará no restante do dia”. Proceder assim é sufocar a alma, pois priva a pessoa da verdadeira vida que consiste fundamentalmente em manter comunhão com Deus. No mundo agitado, pressa, multidão e barullho são altamente nocivos ao desenvolvimento da fé. Os pais da igreja pensavam na oração como oxigênio da fé, sem a qual não podemos permanecer vivos.

Cristãos, famílias e até mesmo igrejas inteiras estão enfermas porque não buscam a Deus. Viver uma religiosidade morta, aquém da proposta do evangelho é fácil, mas é empobrecedor. Para muitas pessoas, comunhão e intimidade com o Senhor são realidades distantes. Se esse é o seu caso, acorde desse sono da morte. Ouça o Espírito lhe chamando à vida com Deus. Atenda o seu chamado. Suba ao monte logo de manhã e desça preparado para as lutas e incertezas próprias da planície da vida cotidiana.

Que o Senhor lhe conceda a graça de viver uma vida piedosa, tal como Josefh Paker, que dizia: “A manhã é o tempo que eu estabeleci para estar a sós com o Senhor. A própria palavra manhã é como um cacho de uvas. Vamos esmagá-las e beber vinho sagrado. De manhã! É a hora que Deus preparou para eu estar no melhor do meu vigor e esperança. Não vou ter que subir ao monte na hora que estou cansado. Durante a noite eu sepultei a fatiga de ontem, e de manhã tomo uma nova porção de energia. Bendito é o dia cuja manhã é santificada! Bem sucedido é o dia cuja primeira vitória é conquistada em oração! Santo é o dia cuja aurora nos encontra no cume do monte! Meu Pai, estou indo! Nada na planície rasteira me afastará das santas alturas. Ao Teu comando eu vou, então Tu virás encontrar-te comigo. De manhã no monte! E estarei forte e alegre por todo o resto de um dia tão bem iniciado”.
Quem começa o dia de joelhos na presença do Pai permanece de pé nas batalhas da vida diária.

domingo, 24 de agosto de 2008

A FÉ DOS DEMÔNIOS

A expressão acima é tão chocante quanto real. De fato há uma fé comum aos demônios. Esse tipo de fé é vista na vida dos que crêem na existência de Deus, mas não vivem para a glória de Deus. Uma fé diametralmente oposta a fé salvadora. Tiago faz uma necessária exortação aos cristãos para que os mesmos façam uma avaliação da real natureza da fé que professam, sob pena de viverem no auto-engano. Não são poucos os que acham que crer em Deus é suficiente e vantajoso. “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem”, afirma Tiago (2.19). O contexto desse texto nos permite identificar pelo menos três características da fé dos demônios.
Em primeiro lugar, a fé dos demônios é incapaz de salvar porque não vem acompanhada de boas obras. “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?" Uma leitura superficial desse texto pode sugerir, como alguns equivocadamente já deduziram, que Tiago está questionando a doutrina bíblica da “justificação pela fé”, mas não é esse o caso. Tiago está combatendo a distorção da doutrina por parte dos antinomistas libertinos, mestres em transformar a graça em desgraça, a medida em que não demonstram frutos de uma nova vida em Cristo. Paulo e Tiago crêem nas mesma verdades. A pessoa é salva pela graça mediante a fé para as boas obras. Portanto, se alguém professa crer em Cristo e sua vida não testifica isso, tal fé é semelhante a dos demônios. Novidade de vida é a marca da fé salvadora.
Em segundo lugar, a fé dos demônios é morta porque não demonstra amor e misericórdia para com o próximo. Que proveito há em ter uma fé que diz crê em Deus, mas que é indiferente as necessidades do próximo? Em uma sociedade marcada pela indiferença e desprezo pelo outro, a fé dos demônios se expressa sempre que as coisas têm mais valor do que as pessoas. Amor e graça, misericórdia e bondade são marcas distintivas dos discípulos de Jesus Cristo. A inexistência desses atributos põe sob suspeita a autenticidade da fé.
Por fim, a fé dos demônios divorcia a doutrina cristã da vida cristã. “Crês, tu, que Deus é um só?” Os demônios não têm dúvidas que Deus é o único e vivo Deus. Eles são ortodoxos, tem uma correta doutrina acerca de Deus. Um espírito maligno se dirigiu ao Senhor Jesus e disse: “Bem sei quem és: O Santo de Deus”! Agora, qual é o proveito de tal conhecimento se não vem acompanhado de vida transformada? A verdadeira ortodoxia vem sempre acompanhada da ortopraxia. Doutrina correta e vida santa são interdependentes. Crer nas doutrinas cristãs e não viver de acordo com elas é negar o evangelho do Senhor Jesus Cristo.

sábado, 23 de agosto de 2008

AH DEUS, QUERO SER A LUZ E O SAL DESTE MUNDO!

Por John Stott, renomado expositor bíblico

Muito mais importante do que a quantidade de cristãos professos inseridos numa sociedade incrédula é a qualidade de seu discipulado – a capacidade de manterem-se fiéis aos padrões cristãos; e, o seu desenvolvimento estratégico – a habilidade de conquistar posições de influência para Cristo. Nós, cristãos, temos o hábito de lamentar a deterioração dos padrões do mundo com um farisaico ar de grande desalento. Criticamos a sua violência, desonestidade, imoralidade, desrespeito para com a vida humana e sua ganância materialista. “O mundo está se afundando cada vez mais”, dizemos, com um encolher de ombros. Mas de quem é a culpa? Quem é responsável por isso? Vamos colocar a coisa da seguinte maneira. Se a casa fica escura ao cair da noite, não faz sentido algum culpar a casa, pois é isso que normalmente acontece quando o sol se vai.

A pergunta a fazer é: “Onde está a luz?” Se a carne se estraga e não dá mais para comer, culpar a carne não faz sentido algum, pois é isto que acontece quando se permite que as bactérias se desenvolvam. O que se precisa perguntar é: “Onde está o sal?” Da mesma forma, se a sociedade se decompõe e seus padrões declinam a tal ponto que ela acaba se tornando como uma noite escura ou um peixe malcheiroso, é um contra-senso culpá-la. Pois isto é exatamente o que acontece quando homens e mulheres “caídos” são deixados entregues à própria sorte e quando o egoísmo humano não é questionado. A pergunta a ser feita é: “Onde está a Igreja? Por que o sal e a luz de Jesus Cristo não estão impregnando e transformando a sociedade?” É pura hipocrisia da nossa parte erguer as sobrancelhas, sacudir os ombros ou cerrar o punho. O Senhor Jesus disse que nós tínhamos que ser o sal e a luz do mundo. Portanto, se a escuridão e a decomposição existem, a falha é nossa, e temos que assumir a culpa. Se o sal deixa de ser sal, não presta para nada. Se a luz deixa de brilhar, perde o efeito. Portanto, se nós, que nos dizemos seguidores de Cristo, queremos fazer algo de positivo por Ele, temos que cumprir dois requisitos.

Por um lado temos que saturar a sociedade não-cristã e nos imergir na vida do mundo; por outro lado, ao fazermos isso precisamos evitar misturar-nos com o mundo. Precisamos conservar nossas convicções cristãs, valores, padrões e estilo de vida. Então, se nos indagarem a cerca do que significa o “ser sal” e o “ser luz” em vista da santidade cristã, o resto do Sermão do Monte o responderá, pois nele Jesus nos recomenda a não sermos como os outros que nos cercam: “Não vos assemelheis ..a eles” (Mateus 6:8). Ao invés disso, Ele nos conclama a uma lealdade maior – a do coração; a uma ambição muito mais nobre – buscar primeiro o reino de Deus e a Sua justiça. Somente depois de escolhermos seguir por Seu caminho é que o nosso sal passa a conservar o seu sabor, nossa luz começa a brilhar, nós nos tornamos de fato Suas testemunhas e Seus servos, passando assim a exercer uma influência integral na sociedade.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

SEMINÁRIOS OU CEMITÉRIOS?

A situação calamitosa das instituições teológicas brasileiras.


É uma tragédia para a igreja cristã o que anda acontecendo com os nossos seminários. O que outrora foi uma confluência de erudição e piedade, hoje é uma simbiose de intelectualismo árido e impiedade ultrajante.

Antigamente os seminários se esforçavam para preparar pastores. Sempre houve limitações, mas havia piedade e temor a Deus. Quando um jovem era enviado ao seminário, havia uma grande expectativa por parte da igreja que, após quatro anos de estudos das Escrituras e demais disciplinas acadêmicas, o candidato estivesse mais preparado para serví-la e exercer o magistério da Palavra. Hoje, salvo as raras e honrosas exceções, essas instituições se especializaram em matar o chamado e sepultar a fé. Embora alguns sobrevivam aos constantes e perniciosos ataques à fé cristã, boa parte comete um entre dois erros: apostasia e cinismo.

Os apóstatas não agüentam a pressão e negam o evangelho. Sem nenhum escrúpulo desprezam a sã doutrina e abraçam uma filosofia alternativa que seja mais adequada à cultura contemporânea. Desconheço a existência de uma pesquisa séria sobre essa matéria, mas, se for feito um levantamento, o que é para nós apenas impressão será confirmado como um dado assustador: muitos jovens abandonam a fé cristã depois de ingressarem nos seminários teológicos.

Os cínicos são piores. Continuam na igreja, embora não acreditem em nada que os irmãozinhos e as irmãzinhas crêem. São atores que representam bem diante do “auditório” dominical. O mercado de trabalho anda concorrido. Sendo assim, é mais fácil brincar com o sagrado e garantir o salário no final do mês. São mestres da hipocrisia e da dissimulação.

Com tudo isso, a igreja sofre hoje um processo de autofagia inconsciente. Ela envia para o seminário aquele que no futuro irá devorá-la com seus ensinos malignos e corruptores. O notável Stanley Jones disse: “o maior inimigo do cristianismo não é o anticristianismo, mas o subcristianismo”. O principal perigo que a igreja corre vem de dentro e não de fora. A maior tragédia na vida da igreja cristã são os falsos pastores postados em seus púlpitos “costurando o véu que a cruz já rasgou”. Especialistas em sonegar a graça de Deus e manter no cativeiro da ignorância àqueles pelos quais Cristo morreu. Spurgeon estava certo ao dizer que um pastor ímpio é o melhor agente de satanás na igreja.

Há muitas razões pelas quais as coisas chegaram a esse estado trágico. Uma delas, incontestavelmente, é a influência nociva do liberalismo teológico. Em nome do diálogo e da razão as principais doutrinas do cristianismo foram rejeitadas. Uma nova leitura foi proposta, ignorando completamente vinte séculos de tradição e riqueza teológica. A chamada hermenêutica da dúvida formou um contingente expressivo de seguidores que lêem a Bíblia com desconfiança. A dúvida é no mundo da teologia, a rainha das virtudes. Toda convicção é vista como fideísmo presunçoso. É impressionante que há um século Chesterton havia alertado: “Estamos em via de produzir uma raça de homens mentalmente modestos demais para acreditar na tabuada. O novo cético é tão humilde que duvida até da sua capacidade de aprender”.

Um olhar retrospectivo em direção às igrejas em outras nações na Europa e nos EUA vai revelar que, indubitavelmente, o liberalismo teológico é uma poderosa arma maligna de destruição em massa. Um pastor ímpio é aquele que dispara o gatilho.

A condenação clássica do liberalismo elaborada por Richard Niebuhr, resume bem o conteúdo programático dos Cemitérios teológicos: “Um Deus sem ira trouxe homens sem pecado a um reino sem julgamento através de ministrações de um Cristo sem cruz”.

É triste, mas não deveria ser uma surpresa. Está escrito:
“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensino de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência”. (1Tm 4.1,2).

Que o Senhor tenha misericórdia da sua igreja e preserve os que são seus!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

SOBRE PASTORES E LOBOS



Osmar Ludovico da Silva


Pastores e lobos têm algo em comum: ambos se interessam e gostam de ovelhas, e vivem perto delas. Assim, muitas vezes, pastores e lobos nos deixam confusos para saber quem é quem. Isso porque lobos desenvolveram uma astuta técnica de se disfarçar em ovelhas interessadas no cuidado de outras ovelhas. Parecem ovelhas, mas são lobos.


No entanto, não é difícil distinguir entre pastores e lobos. Urge a cada um de nós exercitar o discernimento para descobrir quem é quem. Pastores buscam o bem das ovelhas, lobos buscam os bens das ovelhas.


Pastores gostam de convívio, lobos gostam de reuniões.
Pastores vivem à sombra da cruz, lobos vivem à sombra de holofotes.
Pastores choram pelas suas ovelhas, lobos fazem suas ovelhas chorar.
Pastores têm autoridade espiritual, lobos são autoritários e dominadores.
Pastores têm esposas, lobos têm coadjuvantes.
Pastores têm fraquezas, lobos são poderosos.
Pastores olham nos olhos, lobos contam cabeças.
Pastores apaziguam as ovelhas, lobos intrigam as ovelhas.
Pastores têm senso de humor, lobos se levam a sério.
Pastores são ensináveis, lobos são donos da verdade.
Pastores têm amigos, lobos têm admiradores.
Pastores se extasiam com o mistério, lobos aplicam técnicas religiosas.
Pastores vivem o que pregam, lobos pregam o que não vivem.
Pastores vivem de salários, lobos enriquecem.
Pastores ensinam com a vida, lobos pretendem ensinar com discursos.
Pastores sabem orar no secreto, lobos só oram em público.
Pastores vivem para suas ovelhas, lobos se abastecem das ovelhas.
Pastores são pessoas humanas reais, lobos são personagens religiosos caricatos.
Pastores vão para o púlpito, lobos vão para o palco.
Pastores são apascentadores, lobos são marqueteiros.
Pastores são servos humildes, lobos são chefes orgulhosos.
Pastores se interessam pelo crescimento das ovelhas, lobos se interessam
pelo crescimento das ofertas.
Pastores apontam para Cristo, lobos apontam para si mesmos e para a instituição.
Pastores são usados por Deus, lobos usam as ovelhas em nome de Deus.
Pastores falam da vida cotidiana, lobos discutem o sexo dos anjos.
Pastores se deixam conhecer, lobos se distanciam e ninguém chega perto.

Pastores sujam os pés nas estradas, lobos vivem em palácios e templos.
Pastores alimentam as ovelhas, lobos se alimentam das ovelhas.
Pastores buscam a discrição, lobos se autopromovem.
Pastores conhecem, vivem e pregam a graça, lobos vivem sem a lei e pregam a lei.
Pastores usam as Escrituras como texto, lobos usam as Escrituras como pretexto.
Pastores se comprometem com o projeto do Reino, lobos têm projetos pessoais.
Pastores vivem uma fé encarnada, lobos vivem uma fé espiritualizada.
Pastores ajudam as ovelhas a se tornarem adultas, lobos perpetuam a infantilização das ovelhas.
Pastores lidam com a complexidade da vida sem respostas prontas, lobos lidam com técnicas pragmáticas com jargão religioso.
Pastores confessam seus pecados, lobos expõem o pecado dos outros.
Pastores pregam o Evangelho, lobos fazem propaganda do Evangelho.
Pastores são simples e comuns, lobos são vaidosos e especiais.
Pastores têm dons e talentos, lobos têm cargos e títulos.
Pastores são transparentes, lobos têm agendas secretas.
Pastores dirigem igrejas-comunidades, lobos dirigem igrejas-empresas.
Pastores pastoreiam as ovelhas, lobos seduzem as ovelhas.
Pastores trabalham em equipe, lobos são prima-donas.
Pastores ajudam as ovelhas a seguir livremente a Cristo, lobos geram ovelhas dependentes e seguidoras deles.
Pastores constroem vínculos de interdependência, lobos aprisionam em vínculos de co-dependência.


Os lobos estão entre nós e é oportuno lembrar-nos do aviso de Jesus Cristo: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são devoradores (Mateus 7:15).

sábado, 16 de agosto de 2008

O TRONO - UMA ORAÇÃO PURITANA

Ó DEUS DO MEU DELEITE,
Teu trono de graça é a base do prazer da minha alma.
Aqui obtenho misericórdia em tempo de necessidade,
aqui vejo o sorriso da tua face reconciliada,
aqui profiro alegremente o nome de Jesus,
aqui afio a espada do Espírito, cinjo a couraça da fé,
ponho o capacete da salvação, colho o maná da tua palavra,
sou fortalecido em cada conflito, jamais esquivando-me da batalha,
capacitado a vencer cada inimigo;
Ajuda-me a vir a Cristo
como a principal fonte de onde as bênçãos procedem,
como a larga porta aberta para um dilúvio de misericórdia.
Espanta-me minha insensata tolice,
que com tão ricos favores a meu alcance
eu seja lento para estender a mão e tomá-los.
Tem misericórdia do meu estado mortal em razão do teu nome.
Estimula-me, revolve-me, enche-me com santo zelo.
Fortalece-me para que eu possa me apegar a ti e não te deixa ir embora.
Que teu Espírito modele dentro em mim todas as bênçãos da tua mão.
Quando eu não avanço, retrocedo.
Faz-me andar humildemente por causa do bem omitido e do mal cometido.
Imprime sobre minha mente a brevidade do tempo, a obra na qual se engajar,
a conta a ser prestada, a proximidade da eternidade,
o temível pecado de desprezar teu Espírito.
Que eu nunca esqueça que teus olhos sempre vêem,
teus ouvidos sempre ouvem, tua mão registradora sempre escreve.
Que eu nunca te dê descanso até que Cristo seja o pulsar do meu coração;
aquele que fala pelos meus lábios, a lâmpada dos meus pés.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

“O Senhor levanta os abatidos” (Sl 146.7).



A graça de Deus na vida de George Friedrich Haendel (1685-1759)

Händel nasceu em Halle, na Alemanha, a 23 de fevereiro de 1685. Filho de um cirurgião-barbeiro começou a tocar cravo às escondidas do pai, que não queria vê-lo músico. Aos sete anos, aprendeu vários instrumentos, entre eles, violino e oboé; concomitantemente continuava seus estudos no ginásio luterano de sua cidade. Aos 12 anos fez sua estréia como músico na Corte de Berlim. Tocou nas orquestras de Hanover e Hamburgo. Atendendo às exigências paternas, Händel fez estudos jurídicos na universidade de Halle, doutorando-se em direito. Ma sua vocação era musical. Em 1706, aos 21 anos, saiu da Alemanha e foi para a Itália, onde aprofundou os seus estudos e se tornou amplamente conhecido em todo universo musical. Na Inglaterra, aonde viveu a maior parte de sua vida adulta, consolidou sua fama como brilhante músico, chegando a ser líder da Real Academia de Música. Ao todo escreveu cerca de 42 óperas, mundialmente conhecidas.


No ano de 1741, aos 56 anos de idade, Haendel enfrentou uma aguda crise. Depressivo e emocionalmente esgotado, viveu uma fase que muitos julgavam irreversível. Tudo começou a mudar quando Haendel entendeu que “o Senhor levanta os abatidos” (Sl 146.7). Durante 23 dias Haendel permaneceu isolado em sua casa. As refeições trazidas eram devolvidas sem sequer serem tocadas. Haendel estava na sala de cirurgia do Médico da alma. Seus amigos disseram que às vezes “era possível ouvi-lo soluçando, aos prantos – profundamente tocado pelos textos bíblicos e por seu amor a Jesus”. Foi nesse período que, pela graça de Deus, Haendel foi restaurado. Inspirado e cheio da alegria dos céus, ele compôs a sua mais bela e famosa obra: O Messias. Quanto à sua experiência naqueles dias, ele disse: “Eu sentia como se visse todo o céu diante de mim, bem como o próprio Deus”.


Todos nós estamos sujeitos as mesmas lutas. A questão é como reagimos a esses períodos de crise. Haendel buscou a cura em Deus e por isso pôde fazer coro com o salmista: “Tu me verás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente”. Sl 16.11

DE VOLTA AO PRIMEIRO AMOR

A igreja em Éfeso era conhecida pelas muitas obras realizadas. Naquela ocasião era a Igreja mais forte e de maior influência na região, sendo a maior e mais antiga. Eles foram elogiados por Jesus não apenas pelos serviços prestados, mas pela perseverança. Eram constantes na missão, mesmo sob intensa e cruel perseguição. Éfeso era uma igreja exemplar em muitos aspectos, inclusive na sua firmeza doutrinária. Eles tinham uma doutrina correta e não permitia desvios ou corrupção. Em suma, Jesus se dirige a uma igreja zelosa de boas obras, teologicamente sadia, ativa e perseverante, mas nem tudo naquela Igreja era agradável aos olhos do Rei dos reis e Senhor dos senhores.
O Senhor Jesus Cristo faz uma séria e verdadeira queixa contra
a sua Igreja:“Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”. Ap 2.5. Notem irmãos que a queixa não é de natureza doutrinária ou moral; o julgamento não é por falta de obras ou experiências espirituais, mas a queixa é afetiva, tem haver com o coração da igreja. Tratava-se de uma Igreja incapaz de expressar afetos de intimidade e amor para com Deus.
“O primeiro amor”, disse Campbel Morgan, “é o abandono de tudo por um amor que também abandonou tudo”. Assim sendo, a reconquista deste amor é alvo da autêntica espiritualidade cristã. Fico pensando quantos cristãos podem dizer com sincera devoção: “Ó Deus tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; o meu corpo te almeja, como terra seca, árida, sem água. Porque a tua graça é melhor que a vida; os meus lábios te louvam”. Sl 63.1,3. As palavras do salmista revelam um coração batizado no amor de Deus e encantado com Sua Majestade; um coração maravilhado com a graça e fascinado com a beleza de Deus.
Como vai a sua vida, meu irmão? Você vive nesse estado de graça chamado primeiro amor? Ou será que se trata apenas uma lembrança de um passado distante? Talvez essa expressão não diga absolutamente nada a você. Mas se você é cristão, saiba que o Senhor Jesus quer lhe trazer de volta ao primeiro amor.

ANA: UMA VIDA SEM GRAÇA ALCANÇADA PELA GRAÇA DE DEUS

A história de Ana é uma contundente evidência da misericórdia de Deus na vida de seus servos. Sua vida foi alvo da surpreendente, transformadora e poderosa graça de Deus. Conhecida por ser “atribulada de espírito” e “ triste de coração”, Ana era alguém que não mais sorria, apenas chorava. Suas lágrimas constantes eram atestados de tristeza e dor. Tudo isso porque a maternidade era um sonho não realizado. Na condição de mulher estéril o sonho de ser mãe era uma impossibilidade. Penso que não são poucos os que estão na mesma situação de Ana. Gente adoecida na alma por conta de uma frustração, uma expectativa arruinada, um sonho não realizado. A Bíblia diz que “a esperança que se adia, faz adoecer o coração...” (Pv 13.12a).
Antônio Vieira disse que “para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessários exemplos”. Portanto, todos aqueles que vivem hoje uma situação similar a de Ana precisam aprender como é possível uma vida sem graça ser agraciada por Deus e voltar a sorrir.
Ana orou ao Senhor. Simples mas eficaz. Ela tomou a iniciativa de buscar socorro em Deus. Ela não se entregou passivamente à tirania das circunstâncias, nem tão pouco se prostrou na cama da autocomiseração. Quantos não estão nesse exato momento angustiados por não buscar ao Senhor em oração e lhe apresentar suas inquietações? Quão verdadeiro é o hino que diz: “Ó que paz perdemos sempre, ó que dor no coração, só porque nós não levamos tudo a Deus em oração”(Hino 155 CC).
A confissão sincera e reverente tem poder terapêutico. Assim como Ana, podemos derramar nossa alma perante o Senhor e encontrar refrigério pra alma cansada. É necessário expor as interrogações, tristezas e frustrações sem tentar remover Deus do seu trono de glória. É bom lembrar que nossa súplica é dirigida ao Senhor dos Exércitos que criou, sustenta e governa todas as coisas. Benigno em sua natureza e caráter, Deus planejou o melhor para os seus servos. A oração é um instrumento poderoso para discernirmos a sua boa, perfeita e agradável vontade. Se aquilo que você vem pedindo a Deus consta nos planos dele para sua vida, a realização do sonho é só uma questão de tempo, o tempo de Deus. Ainda que pareça impossível, será realizado. Assim como Ana, servimos ao “Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem” (Rm 4.17).

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O SENHOR É O MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ. Sl 23.1


Os salmos são dádivas de Deus a nós. O salmo 23 é a pérola do Saltério. Embora tenha sido escrito há mais de três mil anos, continua vivo e parece ter sido escrito hoje pela manhã. É imensurável o impacto desse salmo na história do povo de Deus. Geralmente é o primeiro salmo memorizado pelas crianças e repetido inúmeras vezes à medida que elas crescem. Quem pode numerar quantas vezes esse salmo já foi lido nas igrejas, nos hospitais, nos cemitérios ou pode mensurar o conforto que esse salmo trouxe ao coração das pessoas? Como disse o professor Kyle Yates, “somente a eternidade poderá revelar a extensão dos santos influxos desencadeados por este lindíssimo salmo”.
O primeiro versículo desse salmo é um dos mais conhecidos de toda a bíblia. Mesmo o ímpio já ouviu alguém dizer: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará”. Esse primeiro verso é a chave para entendermos todo o salmo. Quando Davi disse: O Senhor é o meu pastor, nada me faltará, - ele está fazendo uma declaração impressionante, para não dizer, escandalosa. Soa até mesmo como uma audácia. Observe que ele diz que Deus é sua possessão, ou seja, Deus lhe pertence. Ele proclama em alto e bom som: “O Senhor é o meu pastor”. Observe o pronome possessivo. Parece uma irreverência. No entanto, trata-se de uma ousada proclamação de fé. Indubitavelmente pertencemos ao Senhor, somos sua possessão. Como diz o salmista: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos...” Salmo 100.3
Por isso, a declaração de Davi é um sinal da graça de Deus a nós. Embora sejamos nós que pertencemos a ele, podemos dizer como Davi: O Senhor é meu pastor. Na verdade trata-se de uma aliança. Deus nos chamou para si e aquele que lhe pertence pode dizer: “O meu amado é meu, e eu sou dele” Cantares 2.16. Lutero entendia o evangelho como santa aliança: “Deus declara: meu povo. Nós respondemos: Nosso Deus”. É por conta desse senso de pertença que podemos concluir: NADA ME FALTARÁ. Se Deus é nosso o que pode nos faltar?
Esse salmo tem sido uma fonte de inesgotável de consolo para aqueles que em meios às contingências da vida confia em Deus como seu supremo pastor. A vida é curta, é breve, é incerta. Devemos reconhecer isso. Todavia, nossa segurança reside na inabalável certeza de que temos o Senhor. Ele é nosso. Podemos dizer: Pai nosso que estás nos céus; Deus meu e Rei meu. Portanto, NADA NOS FALTARÁ.