sexta-feira, 11 de maio de 2012

UM BREVE HISTÓRICO DE CUBA



Caros amigos...

No próximo domingo viajo para Cuba, a famosa ilha na América Central. Por aproximadamente duas semanas visitarei as cidades de Santiago de Cuba, Bayamo e Havana (entre outras).

Será uma experiência muito especial pelo menos por duas razões. Primeiro vou ter a oportunidade de voltar a Cuba e ter um novo contato com o povo cubano, sua cultura, sua arte, seus costumes e sua história.

Privilégio maior será rever amigos e irmãos em Cristo. Ficarei alguns dias na cidade do meu amigo, o pastor batista Samuel Columbier, que já esteve no Brasil, inclusive em nossa igreja, compartilhando conosco da comunhão cristã. A despeito de todas as reais restrições existentes, a igreja em Cuba continua viva. O Soberano do universo e Senhor da igreja cria e sustenta os meios necessários para que o seu povo prossiga vitoriosamente. O povo de Deus, em Cuba e em todas as partes do mundo tem recebido a graça necessária para "batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos".

Pretendo a partir de hoje publicar uma série de artigos como uma espécie de diário de uma viagem que espero ser uma experiência positivamente inesquecível.

Segue abaixo uma pequena síntese histórica desse país caribenho singularmente sui generis.

HISTÓRIA
A história de Cuba tem início com o projeto marítimo-mercantil espanhol quando, em 1492, Cristóvão Colombo chegou a essa região da América Central pensando ter alcançado uma pequena ilha do continente. Inicialmente batizada com o nome de Juana – em homenagem ao primeiro filho dos monarcas que controlavam a Espanha – a pequena ilha se transformou em um dos primeiros passos no processo de colonização hispânico que tomaria o restante do continente. Sob tal conjuntura, a colonização de Cuba ocorreu por meio da formação de grandes monoculturas de açúcar e tabaco. Inicialmente, os colonizadores fizeram opção pela exploração da mão-de-obra escrava das populações indígenas que, depois de ser completamente extinta, foi substituída pelos escravos trazidos da Costa Africana. Dessa forma, a ilha centro-americana constituiu mais um foco das desigualdades que marcaram todo passado colonial.

A partir do século XVIII, observamos as primeiras movimentações que deram origem ao processo de independência cubano. No início daquele século, a abrupta elevação dos preços do tabaco no mercado internacional despertou a cobiça da administração hispânica. Com isso, no ano de 1716, os espanhóis impuseram uma lei que definia o monopólio da metrópole sob a comercialização do produto. Insatisfeitos, os “vegueiros” (nome dado aos plantadores de tabaco) lideraram um movimento rebelde, conhecido como a Insurreição dos Vegueiros.

OS PRIMEIROS MOVIMENTOS DE EMANCIPAÇÃO
Curiosamente, quando as colônias espanholas de América conquistaram sua independência (1808-1824), Cuba permaneceu leal governo da metrópole e as diferentes insurreições e conspirações contra o governo espanhol não conseguiram prosperar até 1868. Durante aproximadamente 400 anos a ilha ficou sobre o domínio espanhol.
 
O primeiro movimento de independência de Cuba, a chamada Grande Guerra registrou-se entre 1868 e 1878, também conhecida como Guerra dos Dez Anos, sob a liderança de Carlos Manuel Céspedes, um latifundiário educado na Europa, que defendia os princípios liberais do Iluminismo.

Em 10 de Outubro de 1868, a partir de seu engenho de açúcar, à frente de duzentos homens, Céspedes levantou-se contra o governo espanhol, encabeçando um movimento chamado "República em Armas", proclamando assim a independência de Cuba. Entre as primeiras providências de seu governo, proclamou a liberdade de todos os escravos que se unissem ao exército revolucionário. Essa medida teve como resultado imediato o aumento do seu efetivo para doze mil homens, e a oposição dos demais latifundiários, que se viram privados, por esse meio, de sua mão-de-obra. Enquanto isso, a Espanha ampliava o seu contingente militar na ilha, e Céspedes era deposto em 1873. A resistência, entretanto, prolongou-se até 1878, quando as tropas espanholas retomaram o controle da ilha. A ação repressora das forças espanholas custou milhares de vidas.

Nesse meio tempo, surgiu um novo líder revolucionário: José Martí. Detido aos 16 anos de idade por ter fundado um jornal revolucionário (o La Patria Libre), foi condenado a trabalhos forçados e depois deportado para a Espanha. Livre, viveu no México, na Venezuela e nos Estados Unidos, onde passou a articular uma nova revolução para a independência de Cuba.

Em 1892 fundou o Partido Revolucion'ario Cubano, em busca de recursos para o seu projeto. Desse modo, em 1895 desembarcou em Cuba, dando início a uma nova guerra de independência, na qual pereceu, um mês após iniciado o conflito. Entretanto, mesmo após a sua morte, os combates prosseguiram até1898, quando, com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a luta pela independência foi abortada e Cuba passou a ser colonia dos EUA.


 A EXPLOSÃO DO USS MAINE
 
Em 1898, o USS Maine, um navio de guerra americano ancorado em Havana, repentinamente explodiu.  Sem que se soubesse de imediato qual foi a causa, a imprensa e o governo dos Estados Unidos culparam a Espanha. Sob o pretexto da explosão do navio, foi desatada uma guerra contra a Espanha.

O presidente William McKinley assinou a Resolução Conjunta em 20 de abril de 1898, que declarava:
... que o povo de Cuba é e por direito deve ser livre e independente, ... que os Estados Unidos por intermédio da presente declaram não ter vontade nem intenção de exercer soberania, jurisdição ou domínio sobre esta Ilha, exceto para sua pacificação, e assevera sua determinação, quando a mesma seja atingida, de entregar o governo e o domínio da Ilha a seu povo.

A Resolução Conjunta autorizou o presidente a usar a força para eliminar o governo espanhol em Cuba. Assim, os Estados Unidos declararam guerra contra a Espanha, passando a atacar territórios espanhóis quer no Caribe quer no Pacífico, invadindo-os.


DERROTA DOS ESPANHÓIS
 Em 1898, com a vitória dos Estados Unidos sobre a Espanha, os norte-americanos passaram a controlar Cuba e Porto Rico. Derrotados, os espanhóis retiraram-se e os Estados Unidos declararam a independência(?) de Cuba, que se tornou um protetorado americano, sendo nomeado um Governador-Geral pelos EUA, o General norte-anericano John Brooke. O governo estadunidense começou a criar propostas econômicas que beneficiavam apenas aos EUA, como por exemplo, todos os produtos que Cuba produzia eram exportados apenas para os Estados Unidos, a preços baixíssimos, que os revendia por preços maiores.

PROTETORADO ESTADO-UNIDENSE E EMENDA PLATT

 
Cuba permaneceu ocupada pelos Estados Unidos até 1902 sendo liberada depois da aprovação de uma emenda à Constituição cubana que dava o direito, aos Estados Unidos, de invadir Cuba a qualquer momento em que os interesses econômicos dos Estados Unidos fossem ameaçados. A chamada Emenda Platt permaneceu mantendo Cuba um protetorado estado-unidense até 1933. Depois de três anos, concederam independência a ilha, no entanto até hoje matem uma base militar na cidade de Guatánamo.
 
 OS PRIMEIROS ANOS DA INDEPENDÊNCIA  (1902-1959)
Este foi um período marcado pela instabilidade interna do país e pelo predomínio estadounidense plasmado na emenda Platt que outorgava aos Estados Unidos o direito a intervir com suas forças armadas em Cuba em caso de distúrbios. Nem os governos democráticos, nem a ditadura de Gerardo Machado nos anos vinte nem o predomínio de Fulgêncio Batista entre os anos 1933 e 1959 conseguiram dar estabilidade ao país.

GOLPE MILITAR
Em 1933, um golpe militar encabeçado pelo sargento estenógrafo Fulgêncio Batista  derrubou a ditadura de Geraldo Machado. Fulgêncio Batista era mulato e pela primeira vez na história cubana os afro-descendentes chegavam ao poder. Ao se tornar chefe do exército, Batista dominou a situação usando uma orientação (segundo alguns) socialista, portanto oposta às ingerências norte-americanas. 

ELEIÇÃO DE 1940
 Batista foi eleito em 1940 presidente ds República. Promulgou a Constituição Liberal, e em 1952 conduziu novo golpe de Estado apoiado por diversos partidos políticos dentre os quais o Partido Socialista Popular (Partido Comunista Cubano).
Após o golpe de Batista, Cuba progrediu economicamente, porém sua economia ainda era fraca e tinha forte desequilíbrio na distribuição de renda. A ilha, mesmo sendo a maior economia do Caribe, em 1958 era apenas a oitava economia entre os 20 maiores países latino-americanos relativamente ao PIB e um dos mais pobres do caribe, considerando o PIB per capita. Além disto, havia também um grande desequilíbrio entre a área rural e urbana.

A área urbana possuía forte infra-estrutura e o capital proveniente do submundo ítalo-americano (dos Estados Unidos) financiava grande parte da economia. Em 1958, havia um total de 500 prostitutas em Havana, sendo a indústria da prostituição a mais rentável da ilha.

A prostituição, a corrupção e negociatas caracterizaram a era Batista, e, pouco a pouco, a classe média afastou-se do regime. 

REVOLUÇÃO CUBANA
Devido à estrutura politico-econômica seguida por Batista, começou a haver descontentamento das classes média e baixa da população cubana. Na esteira dos protestos, os jovens começaram a se mobilizar e a adquirir idéias revolucionárias descendentes do bloco soviético.
 
MOVIMENTO ESTUDANTIL
Os estudantes, liderados por José Antonio Etcheverria, criaram um Diretório Estudantil Revolucionário que patrocinou um grupo armado e atacou, em março de 1953, o palácio presidencial. Etcheverria foi morto e o diretório disperso. 

FIDEL CASTRO
Outro grupo de estudantes iniciou nova movimentação, liderados por um estudante de Direito chamado Fidel Alejandro Castro Ruz, (Fidel Castro).
Numa ação de guerrilha urbana, o grupo atacou uma guarnição militar chamada de La Moncada. Na ação, alguns dos atacantes foram mortos e Fidel Castro capturado. Julgado, foi condenado a 15 anos de prisão; libertado em seguida por interferência de alguns religiosos, viajou para o México. Lá conheceu um médico argentino comunista chamado Ernesto Guevara, conhecido como Chê.

 
EL CHE – CHE GUEVARA
O guerrilheiro argentino Che Guevara ajudou Fidel na formação de um movimento revolucionário chamado Movimento 26 de Julho, composto de jovens estudantes que iniciaram uma luta contra Batista que durou 25 meses.

Em 7 de Novembro de 1958, Ernesto Guevara Lynch de la Serna, Che Guevara ou el che,começou sua marcha para Havana, capital de Cuba. No dia 1 de janeiro de 1959, Batista põe-se em fuga, acompanhado por todos os dignitários de sua ditadura. Em 1959, Fidel Castro liderou a Revolução Cubana contra do Ditador Fulgencio Batista . Fidel Castro não era comunista, aliás, os comunistas apoiavam Batista e não confiavam em Fidel. Fidel Castro obiliza a juventude cubana e consegue eliminar o analfabetismo - que era de 40 % - em apenas um ano, utilizando-se de cem mil jovens nessa empreitada. Fidel Castro realizou a reforma agrária, desapropriando propriedades dos americanos, indenizados pelo valor que declararam no Imposto de Renda do exercício anterior, muito abaixo do valor real, provocando descontentamento entre os proprietários mais ricos e o que levou os EUA a considerarem o líder cubano um inimigo e tentarem derrubá-lo, treinando ex-militares de Batista para invadir Cuba. Cortaram também a compra do Açúcar Cubano. Isso obrigou Fidel a se aproximar da União Soviética e dois anos mais tarde instaurar um regime ditatorial de orientação marxista e partido único.

 BAÍA DOS PORCOS

 Entre 17 e 21 de Abril de 1961, cerca de 1500 exilados cubanos recrutados, patrocinados e treinados pela CIA dos EUA tentaram uma invasão frustrada na Baía dos Porcos. Foram rechaçados e 300 deles morreram, sendo 1200 aprisionados. Eram a maioria soldados do ex-ditador Batista e, julgados pela multidão no estádio em que foram mantidos presos, quando Fidel perguntou o que fazer com eles a multidão gritou: Paredão! Fidel Castro, entretanto, preferiu tentar trocá-los por tratores, um trator para cada 50 traidores, e devolvê-los à Miami. Não conseguiu os tratores, mas recebeu USS$ 50 milhões em alimentos e medicamentos, pela libertação dos exilados. 

CRISE DOS MISSÉIS DE CUBA
Devido a aproximação das relações do regime cubano com a URSS, que estava em plena Guerra Fria com os EUA, assistiu-se a um aumento de tensão entre os países provocado pelo apoio militar declarado pela URSS.Khurshchov decidiu implementar secretamente um conjunto de mísseis soviéticos em Cuba. Perante a possibilidade de Cuba possuir armas nucleares, de origem russa, que ameaçariam os EUA, Kennedy presidente dos Estados Unidos, ponderou em invadir a ilha ou bombardear as rampas de lançamento (dos mísseis).

Kennedy optou por decretar um embargo naval à ilha o que impede os cargueiros russos de chegar a Cuba.
Khrushchev acabou por ceder e retirou a sua pretensão de possuir mísseis em território cubano em troca do compromisso dos EUA de respeitarem a soberania de Cuba e não invadirem a ilha e desmontar bases de mísseis na Turquia, fato que só foi divulgado recentemente nos EUA. 

EMBARCO ECONÔMICO
Inconformados com a expropiação de corporações americanas e de terras rurais de posse de americanos na ilha cubana com indenização baseada no valor declarado ao Fisco no exercício anterior, ou seja, muito inferior ao real, primeiramente, depois com o fracasso da operação na Baía dos Porcos (1961), os Estados Unidos impuseram um embargo econômico a Cuba, ameaçando cortar relações com qualquer país que fizesse comércio com Cuba. Foi quando a União Soviética entrou em cena, comprando os produtos que seriam exportados caso não houvesse embargo. Isso causou desespero aos americanos, pois ter um país, durante a guerra fria, sob a órbita de influência soviética a 120km de distância era intolerável. Os EUA mantêm o embargo econômico à Cuba até hoje, alegando desrespeito contínuo de direitos humanos pelo regime castrista.

ABERTURA DOS MERCADOS

Com o fim da União Soviética, Cuba acabou por reabrir economicamente o país para o mundo, pois já não dispunha mais do subsídio e sua economia estava em declínio. Porém, dada a força do bloqueio americano, o país vive isolado economicamente, passando por muitas dificuldades.
Atualmente o governo cubano tenta promover algumas algumas aberturas econômicas, embora insista em não abrir mão dos "ideais" socialistas. Raul Castro, segundo alguns cientistas políticos, caminhará na mesma direção da China: Politicamente comunista, mas economicamente aberta ao capital estrangeiro. Será?


No próximo artigo, foi falar sobre a história da igreja em Cuba.

Referências
The Conference Board and Groningen Growth and Development Centre, Total Economy Database, January 2007, http://www.ggdc.net. Dados históricos de PIB <http://www.ggdc.net/dseries/data/ted/ted07I.xls> acessados em 12 de outubro de 2007.


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