quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

ESCUTATÓRIA

Por Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso deescutatória.
Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai sematricular.Escutar é complicado e sutil.


Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro:Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.


Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil denossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos... Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes,ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.Vejam a semelhança...Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio...Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.


Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente,alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falouos seus pensamentos...Pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.


Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidadeeu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que vocêfalou. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que umabofetada. O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora.

É preciso silêncio dentro. Ausência depensamentos.E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisasque não ouvia.Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência...E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimosa melodia que não havia...Que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam numcontraponto.

O SUPREMO VALOR DO CRISTIANISMO

Por Hernandes Dias Lopes
O grande bandeirante do Cristianismo, Paulo, homem de mente peregrina, personalidade prismática e cultura invulgar, ao ser transformado pelo poder de Deus, declarou: "deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor" (Fp 3:8). Desprezar e ignorar o Cristianismo sem conhecê-lo é estultícia. Conhecê-lo e reprová-lo é cegueira. Conhecê-lo e segui-lo é o maior propósito da vida. O Cristianismo é mais que uma religião. O Cristianismo é uma pessoa, uma pessoa divina. O Cristianismo é Jesus. Segundo Karl Marx, a religião é o ópio do povo. Para Sigmund Freud, a religião é uma muleta para os fracos. Mas o Cristianismo bíblico é a maior força transformadora neste mundo.O Cristianismo contraria o materialismo. O homem não é só matéria. Ele é um ser moral e espiritual que tem responsabilidade consigo, com a família, com a sociedade e com Deus.
O Cristianismo contraria o humanismo. O homem não é o centro do universo. Deus o é. A antropolatria é uma insanidade espiritual. O Cristianismo contraria o existencialismo. A vida não é só o aqui e o agora. Existe uma eternidade pela frente. A vida não é um poço de desespero. Jesus acabou com a perspectiva de náuseas da vida. O Cristianismo contraria o utilitarismo.
A vida não é só uma corrida frenética atrás da riqueza e da autopromoção. O homem não é um objeto descartável para ser usado, explorado e jogado no lixo. O homem é alvo do infinito amor de Deus. O Cristianismo contraria o hedonismo. A finalidade da vida não é o prazer carnal, a satisfação dos desejos imediatos. O supremo propósito da vida é a glória de Deus.As grandes transformações da história foram realizadas sob a égide do Cristianismo.
1. As lutas dos gladiadores - Centenas de milhares de escravos derramaram seu sangue nas arenas romanas, ano após ano, para satisfazer as paixões pervertidas das multidões sedentas de sangue. Certo dia um cristão de nome Telêmaco saltou para dentro da arena e separou dois gladiadores que lutavam. A um sinal do imperador, ele foi morto na arena. Mas ao sacrificar-se, poupou a vida de milhares de outros. Houve um silêncio da multidão ao ver Telêmaco morto e todos saíram envergonhados e esse foi o fim daquele horrendo espetáculo em Roma.
2. O valor das crianças - No "pátria potestas" o poder de um pai romano sobre seu filho era absoluto. Podia expor seus filhos à morte, mutilá-los, vendê-los, matá-los. Havia um local em Roma, a "torre lactaria" onde as crianças eram abandonadas e devoradas pelos animais. Sêneca relata inúmeros casos de pais matando os filhos. Cícero, o famoso tribuno romano, afirma que os pais tinham realmente o direito de tirar a vida dos filhos. Tácito, grande escritor romano, relata cenas de crianças recém-nascidas sendo levadas pelos pais e abandonadas nas encostas das montanhas e expostas às feras. Em Esparta as crianças doentes eram jogadas nos rios, nos precipícios ou passadas ao fio da espada. Jesus, porém valorizou as crianças. Abençoou-as e disse: "Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus" (Mc 10:14). Pela influência do Cristianismo o infanticídio institucionalizado desapareceu do mundo.
3. O valor da mulher - As mulheres tinham muito pouco valor antes da vinda de Jesus. Os escritos do Hinduísmo e do Bramanismo declaram que a mulher não foi feita para a independência. O Islamismo não dá à mulher o mesmo direito que ao homem. Os hindus adotavam a prática de queimar o corpo da viúva com o corpo do seu marido morto. Jesus Cristo devolveu à mulher a sua dignidade original. A liberdade da mulher é vitória do Cristianismo.Muitas outras conquistas e transformações aconteceram pela influência do Evangelho de Cristo. Jesus sempre foi, é e será o centro do universo, da história e da igreja. Sem ele a vida é insípida e vazia. Não há salvação fora de Jesus. Não há perdão de pecados fora de Jesus. Sem Jesus a vida é um deserto seco. Com Jesus, entretanto, o próprio deserto floresce e se transforma em um frutuoso pomar.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Joe Wright: Um Pastor com Coragem!

Em uma época de muitas animadores de auditório e poucos profetas do Deus Altíssimo, a oração do pastor Joe Wrigth é uma demonstração de que, embora cada vez mais raros, ainda existem homens de Deus que falam a verdade com ousadia.
Quando pediram para o ministro Joe Wright abrir a nova sessão do Senado de Kansas, todos estavam esperando o tradicional discurso, mas isso foi o que eles ouviram:


Pai celeste, nós estamos diante de Ti hoje para pedir Teu perdão e para buscar Tua direção e liderança.

Nós sabemos que Tua palavra diz, 'Cuidado com aqueles que chamam o mal de bem,' mas isto é exatamente o que temos feito. Nós perdemos nosso equilíbrio espiritual e revertemos nossos valores.

Nós exploramos os pobres e chamamos isso de loteria.

Nós recompensamos preguiça e chamamos isso de bem-estar.

Nós cometemos aborto e chamamos isso de escolha.

Nós matamos os que são a favor do aborto e chamamos de justificável.

Nós negligenciamos a disciplina de nossos filhos e chamamos isso de construção de auto-estima.
Nós abusamos do poder e chamamos isso de política.


Nós invejamos as coisas dos outros e chamamos isso de ambição.

Nós poluímos o ar com coisas profanas e pornografia e chamamos isso de liberdade de expressão.
Nós ridicularizamos os valores dos nossos antepassados e chamamos isso de iluminismo.


Sonda-nos, oh, Deus, e conhece os nossos corações hoje; nos limpa de todo pecado e nos liberta.
Amém!'

A resposta foi imediata. Um número de legisladores saíram durante a oração em forma de protesto. Em 6 semanas, a igreja chamada Central Christian Church, onde o Rev. Wright é pastor, recebeu mais que 5.000 ligaçoes e somente 47 foram negativas. A igreja agora está recebendo pedidos internacionais de cópias desta oração, como a Índia, África e Korea.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

PARQUE NACIONAL DE ITATIAIA

O PRIMEIRO PARQUE DO BRASIL
O Brasil é um país continental, cuja biodiversidade é admirada em todo mundo. Conhecer esse país é um privilégio e ao mesmo tempo um desafio. Existe um Brasil que os brasileiros não conhecem. Há inúmeros lugares em nosso país cuja beleza é arrebatadora. O Parque Nacional de Itatiaia é um desses lugares que nos deixa fascinados com a perfeição da criação e a grandeza do Criador.

Em 1997 tive a felicidade de conhecer o Parque Nacional de Itaiaia, situado a 194 km da capital carioca. Um lugar muito bonito que recebe em media 100 mil turistas por ano (poderia receber muito mais se houvesse uma política mais adequada por parte das autoridades) À época, eu e Claudia, minha esposa ficamos encantados com a beleza do lugar, especialmente as suas belas e exuberantes cachoeiras. Guiados pelo Cleverson, um querido amigo criado na região, visitamos os principais lugares do Parque, (com exceção do Pico das Agulhas Negras que fica 2791 m acima do nível do mar. (Quem sabe um dia eu chego lá...). Foi um passeio inesquecível.
Doze anos depois, semana passada, voltei ao Parque, e novamente fiquei encantado com toda beleza da região. O Edimar (que embora esteja visivelmente fora de forma conseguiu chegar até a cachoeira Véu de Noiva, com uma queda de água de 30 metros) a Fátima e o Daniel Sousa, foram meus companheiros nessa prazerosa aventura. Sem falar do Cleverson, que mais uma vez (depois de uma longa temporada em Londres) estava novamente em Itatiaia para nos mostrar os encantos desse lugar maravilhoso.
Do mirante do Último Adeus, uma formação rochosa de 90 metros de altura se pode observar um riacho cortando a floresta montanha abaixo. O cenário é esplendido. Apesar de muito alto, é seguro por conta da excelente obra que foi feita proporcionando mais segurança aos visitantes.

O Parque Nacional do Itatiaia fica na Serra da Mantiqueira, que engloba três estados, a saber, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. É uma região de vasta beleza e riquezas naturais. Se você ainda não conhece esse lindo lugar precisa conhecer. Trata-se do Primeiro Parque Nacional do Brasil, criado pelo presidente Getúlio Vargas, no ano de 1937.


BIODIVERSIDADE – A FLORA E A FAUNA DO PARQUE
A região acima de 2.000 metros no parque Nacional de Itatiaia tem cerca de 50 Km2 de extensão e já foram encontradas aproximadamente 415 espécies da sua flora, sendo 11% endêmicas ao Planalto do Itatiaia.

Diversas espécies ameaçadas de extinção são encontradas do Parque, entre elas, o Muriqui (maior primata das Américas). O Parque Nacional de Itatiaia é um paraíso para os observadores de aves. Já foram avistadas mais de 350 espécies. No passeio nós vimos alguns especialistas estrangeiros fazendo inúmeras fotos dessas espécies raras existentes somente no Brasil.

ALGUNS ATRATIVOS DO PARQUE

Centro de visitantes.
Lago Azul
Cachoeira Poranga
Três Picos
Cachoeira Maromba
Cachoeira Véu-de-Noiva
Cachoeira Itaporani
Vista do Último Adeus
Casa de Pedra
Brejo da Lapa
Morro do Couto
Cachoeira Aiuruoca
Prateleiras
Agulhas Negras – A quinta montanha mais alta do Brasil.
Abrigo Rebouças
Cachoeira das Flores

UM BREVE HISTÓRICO DO PRIMEIRO PARQUE DO BRASIL.

Toda a região onde hoje é o Parque Nacional de Itatiaia, era habitado pelos índios Puri, isso pelo menos até o final do século 18. Naturalistas brasileiros e estrangeiros começaram a desvendar a região.

1856- Engenheiro José Franklin Massena faz a primeira ascensão ao cume das Agulhas Negras.

1878 – Engenheiro André Rebouças visita a região e propõe a criação de áreas naturais protegidas.

1908 – O Governo adquire 48mil hectares das fazendas do Visconde de Mauá e uma parte desta área é destinada para implantação de Núcleos Coloniais para europeus.

1914 – Fracasso do projeto de colonização. Instalação de Reserva Florestal nas terras do ex-Núcleo Colonial de Itatiaia.

1928 – Instalação da Estação Biológica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro por conselho de A. Loefgreen.

1937 – Getúlio Vargas cria o primeiro Parque Nacional do Brasil.

1942 – Inicia-se a criação do primeiro Edifício Sede – atual centro de visitantes.

1950 – Construção das edificações e abrigos Massena, Rebouças e Lamego.

1982 – Ampliação do Parque

1996- Museu da Flora e Fauna passa a ser Centro de Visitantes Prof. Wanderbilt Duarte de Barros.

2001 – Implantação do PREVFOGO

2007 – Inauguração da revitalização do Parque durante as comemorações dos seus 70 anos.


COMO CHEGAR
O acesso ao Parque Nacional de Itatiaia é feito a partir de São Paulo (distante 253 km) ou Rio de Janeiro (194 km) pela via Dutra (BR 116) até Itatiaia, mais 5,5 km até a portaria principal.

Acesse o site oficial e confira a beleza do lugar http://www.parquenacionaldoitatiaia.com.br/

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O CRISTÃO E A CULTURA

POR MICHAEL HORTON

Por vezes os hinos me confundem. Eu me lembro bem, quando garoto, de ficar confuso com dois hinos populares que me pareciam totalmente contraditórios. O primeiro era “Aqui não é meu lar, um viajante sou”, e o outro era “O mundo é do meu Pai”. Se o mundo é do meu Pai, eu pensava, porque estou apenas passando por ele como viajante?

Mas os hinos não eram a única coisa a confundir no negócio de relacionar-me como cristão no mundo. Esperava-se dos cristãos que justificassem tudo nas suas vidas pela sua utilidade espiritual ou evangelística. No máximo, a educação, atividades, vocações ou buscas “seculares” eram um mal necessário -- para se ganhar a vida, para ter com que dar o dízimo e dar para missões. Na pior das hipóteses, distraíam da vida cristã. Agiam como a canção da Sirene seduzindo mundaninhos insuspeitos aos recifes da incredulidade e do afastamento de Deus. Assim, os que queriam ser empresários procuravam empregos em organizações e agências cristãs. Se descobríssemos um pequeno Rembrandt num jovem artista da igreja, nós o colocávamos como responsável pelo quadro de avisos e (se ele fosse realmente bom) deixávamos que pintasse o batistério. Esperava-se dos nossos cientistas que promulgassem a causa do criacionismo -- mesmo que a cosmologia ou as ciências biológicas e antropológicas não fossem suas especialidades. Dos músicos esperava-se que entrassem (ou formassem) na banda de louvor ou fizesse uma turnê pelas igrejas do país -- o tamanho da igreja, claro, dependia do grau de talento do artista. Através dos anos, temos criado os nossos próprios guetos de artistas, super estrelas e apresentadores, com versões cristãs de tudo que há no mundo.

Essas experiências, porém, não se limitam ao nosso tempo e lugar. A Renascença, e de modo especial, os tempos da Reforma foram reações ao modo medieval de encarar a vida. Para a igreja medieval, filosofia, arte, música e ciência se confundiram tanto com a religião que não dava para distinguir uma da outra. A filosofia não era, na realidade, filosofia, A Renascença demonstrou como a interpretação da igreja medieval de Aristóteles e Platão (os favoritos) era diferente dos escritos daqueles filósofos. Se alguém quisesse ser artista, mais uma vez procurava-se a igreja para um emprego, como a arte era ferramenta da pregação ou do ensino da vida e dos tempos de Jesus e seus apóstolos. E os sofrimentos de Copérnico e Galileu nos lembram do perigo de dizer mais do que a Bíblia diz sobre teorias científicas específicas.

A Reforma libertou homens e mulheres cristãos para seguir com dignidade e respeito os seus chamados divinos no mundo, sem ter que justificar a utilidade desses chamados à igreja ou ao empreendimento missionário. A vocação era dom da criação. Até mesmo os não cristãos, como quem carrega a imagem de Deus, possuíam este chamado divino. Crente e incrédulo eram igualmente responsáveis por desenvolver seu trabalho com excelência -- um reconhecendo a Deus como autor e alvo dessa excelência, e o outro servindo a Deus com seus talentos apesar de sua recusa em reconhecê-lo como doador e alvo de tudo. Em contraposição à visão monástica do mundo, a Reforma promulgava uma teologia que abarca o mundo, um dos fatores principais no desenvolvimento da ciência, da Era Dourada” da arte holandesa e da literatura inglesa e escocesa, a libertação da igreja da política, a difusão universal da leitura e da escola pública, e o grito por liberdades civis em contraposição ao fundo da tirania vigente.

É claro, não existe movimento perfeito -- há envolvida em todos gente demais parecida conosco! A Reforma não é exceção, com sua parcela de erros e os disparates de homens e mulheres pecadores. Contudo, os temas bíblicos por ela recuperados trouxeram de volta ao povo de Deus um senso de pertencer a este mundo durante o tempo que Deus nos deu, mas pertencer dentro de , e não como parte do mundo.
A pressão de justificar a arte, ciência e a diversão em termos do seu valor espiritual ou sua utilidade evangelística acaba prejudicando tanto o dom da criação quanto o dom do Evangelho, desvalorizando o primeiro e distorcendo, no processo, o segundo. Por exemplo, “música cristã” é freqüentemente uma desculpa para artistas inferiores conseguir vencer numa sub cultura cristã que imita o brilho e glamour do entretenimento secular, inclusive suas próprias cerimônias de premiação e seu ambiente de super estrelato. Pode ser que essa não seja a intenção por parte de muitos artistas que querem contribuir ao cenário da música cristã contemporânea, mas a indústria acaba produzindo, na maioria, imitações nada criativas, repetitivas, superficiais da música popular. Produzir música em conformidade com os gostos anestesiados duma cultura consumista já é ruim; imitar a arte comercializada é desperdiçar os talentos, a não ser que se esteja escrevendo para o rádio e a televisão. Trivializa tanto a arte quanto a religião. Não quero com isso condenar todos os artistas cristãos, pois há muitos musical e liricamente sofisticados o bastante que integram uma compreensão séria da mensagem bíblica com um estilo musical criativo. Também não quero que sejamos “esnobes” musicais que confundem seu gosto particular com a Palavra revelada de Deus. Afinal de contas, freqüentemente “a verdade está escrita nas paredes do metrô”, o equivalente arquitetônico da música popular. É esta uma das razões pelas quais eu aprecio a música popular de vez em quando, em parte porque é agradável e traz lembranças de tempos passados. Mas é uma forma inferior, dirigida comercialmente (noutras palavras, financeiramente) que se rebela contra os padrões mais altos da expressão artística.

Essas pressões, porém, para se criar versões distintamente “cristãs” de tudo no mundo (ou seja, na criação), pressupõem que exista algo essencialmente errado com a criação -- e essa é uma pressuposição teológica que tem influência muito maior na formação das atitudes evangélicas em todas essas esferas do que geralmente se admite. Examinaremos essa posição básica nos próximos capítulos.
Permita-me dizer de início que este livro não é uma análise sofisticada da base teológica de uma visão cristã do mundo ou da natureza das artes, ciências, filosofia e assim por diante. É para o leitor geral, especialmente para aqueles crentes que lutam com uma sub cultura que abafa ao invés de encorajar seus impulsos e suas ambições divinamente dotadas. Nesse sentido, é um livro pastoral. É oferecido com esperança de que os teólogos aprendam mais sobre outras disciplinas e que cristãos nessas outras disciplinas se ancorem mais firmemente sobre a teologia bíblica antes de tentar “integrar” sua fé e vida. Mas não obstante a posição do leitor em relação a esses tópicos -- seja ele um esteta de muita cultura ou uma mãe cristã que quer saber se sua filha pode cursar com segurança uma universidade secular -- haverá poucos desafios às idéias prevalecentes no mundo evangélico e aqui e ali algo em que pensar um pouco mais.

Para iniciar, quero definir alguns termos, Primeiro, estarei usando o termo “cultura” no seu senso mais amplo, referindo-me tanto à cultura popular (esportes, política, ensino público, música popular e diversões, etc. e a alta cultura ( horticultura, academicismo, música clássica, ópera, literatura, ciências, etc.). Uma definição útil e abrangente de “cultura” para nossa discussão pode ser “a atividade humana que intenciona o uso, prazer e enriquecimento da sociedade”. Segundo, por “igreja” estou dizendo a igreja institucional, -- “onde a Palavra de Deus é pregada e os sacramentos são administrados corretamente”, como diziam os reformadores.
Quando, por exemplo, se diz que a igreja não deve confundir sua missão com as esferas da política, arte, ciência, etc., não se está sugerindo que os cristãos como indivíduos devessem abandonar esses campos (muito pelo contrário), mas que a igreja como instituição deve observar a sua missão divinamente ordenada. Essa igreja institucional deve ser entendida como expressão visível do corpo universal de Cristo através de todos os séculos e em todo lugar. A igreja institucional recebeu a comissão única de pregar a Palavra e fazer discípulos, Meu emprego da palavra “igreja”, portanto, não é apenas uma referência ao corpo coletivo de cristãos individuais, mas ao organismo vivo fundado por Cristo, ao qual foi confiado o seu próprio ministério pessoal.

Fonte: Extraído da Introdução do excelente livro “O Cristão e a Cultura”, de Michael Horton, publicado pela Cultura Cristã. Clique aqui para comprar.

ARTE, BULA E RADIOGRAFIA

POR ISRAEL BELO DE AZEVEDO,

Leio a Bíblia como uma obra de arte. Arte, para mim, é uma obra que tem dois autores: o primeiro, que a produziu, e o segundo, que fica diante dela, seja um poema, um conto, uma pintura, uma canção, uma escultura. É sempre obra aberta, que posso interpretar. Posso ser livre, completamente livre em minha interpretação, ou posso chamar o Espírito Santo para me conduzir a uma leitura que não só me dê uma compreensão mais profunda do texto, mas, sobretudo, inspire-me a viver segundo a orientação que transborda do texto. Uma boa hermenêutica (arte de ler e interpretar a Bíblia), portanto, é sempre pneumatizada (soprada pelo Espírito Santo). Não sou anulado, quando a leio assim: sou bem orientado.Abro Gênesis e leio a magnífica história de Isaque subindo a colina para um sacrifício que não houve. Qual é a moral da história? Não está no texto, nem no inexistente rodapé. A moral da história é a que eu der. Só Deus mesmo podia inspirar um livro assim.
Leio a Bíblia como uma bula de remédio, com letras gigantes. A Bíblia é um conjunto de cápsulas para a vida. A bula não fala das cápsulas, que não têm contra-indicações; a bula fala do que devemos fazer com as cápsulas. Devemos tomá-las porque vieram de Deus para nós. Devemos tomá-las com regularidade, para que o efeito possa se prolongar. Devemos tomá-las sabendo que vão provocar reações adversas no nosso corpo e no corpo de nossa sociedade. Devemos tomá-las certos que algumas são amargas.Posso ser negligente e não tomar o remédio e aí preciso saber que continuarei enfermo. Uma Bíblia na caixa, sem ser aberta, é como uma caixa de remédios na gaveta. O remédio perde a validade e vai para o lixo. A validade das verdades bíblicas perde seu efeito e nos deixa sem proteção diante dos ataques das baterias internas e externas do mal.
Leio a Bíblia como uma radiografia de mim mesmo. Sei que há textos na Bíblia cheios de sangue e crueldade. Alguns mal-intencionados chegam a condená-la. Um desses, grande escritor, disse também que a humanidade não merece a vida. Em que lugar aprendemos melhor isto, senão na Bíblia? Por que essa hipocrisia: seria melhor um texto róseo, onde as coisas tivessem bem? Não: prefiro um texto que mostre quem sou, capaz de fazer o que herói e anti-heróis da Bíblia fizeram. Prefiro um texto que não ignora quem sou eu, mas me mostra quem posso ser (um homem em sintonia com Deus, comigo mesmo e com o próximo). Prefiro um livro que fala do meu presente (cheio de sonhos, para mim e para os outros). Prefiro um livro que fala do futuro (uma eternidade plena de vida plena) que posso ter.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mercado gospel, seguindo a moda politicamente correta, cria a “Bíblia Verde”

Para adaptar a Bíblia ao gosto dos ambientalistas, a editora americana HarperCollins acaba de lançar a “Bíblia Verde”, para ajudar os cristãos a entenderem a mensagem ambientalista da Bíblia.
O livro, feito com 10 por cento de papel reciclado e impresso em tinta verde, apresenta passagens frisadas em verde que tratam do dever de se cuidar da terra. O site da editora afirma que a Bíblia Verde “equipará e incentivará as pessoas a verem a visão de Deus acerca da criação e as ajudará a se envolver na cura e manutenção da terra”.
A Bíblia Verde contém 1.000 referências à terra — em comparação com apenas 530 referências ao amor e 490 ao céu.
“A Bíblia Verde” usa comentários de São Francisco de Assis, Papa João Paulo 2 e do ultra-liberal bispo anglicano Desmond Tutu, que apóia o “casamento” entre homossexuais. Foram impressos mais de 37.000 exemplares — e os primeiros 25.000 foram totalmente vendidos em poucas semanas.
Além da “Bíblia Verde”, HarperCollins publica os livros Bíblia Satânica e Rituais Satânicos, escritos por Anton La Vey, conhecido como o Papa Negro do satanismo.
HarperCollins é dona da editora evangélica americana Zondervan, que por muitos anos foi dona da Editora Vida no Brasil.

Traduzido, adaptado e editado por Julio Severo: http://www.juliosevero.com/

Fonte do texto original: WND

SIM OU NÃO À EXISTÊNCIA DE ISRAEL? ESSA É A PRIMEIRA QUESTÃO. EU DIGO “SIM”

POR REINALDO AZEVEDO

O Hamas rompeu a trégua com Israel — a rigor, nunca integralmente respeitada —, e aqueles que ora clamam pelo fim da reação da vítima — e a vítima é Israel — fizeram um silêncio literalmente mortal. Hipócritas, censuram agora o que consideram a reação desproporcional dos israelenses, mas não apontam nenhuma saída que não seja o conformismo da vítima. É desnecessário indagar como reagiria a França, por exemplo, se seu território fosse alvo de centenas de foguetes. É desnecessário indagar como responderia o próprio Brasil. O Apedeuta e seus escudeiros no Itamaraty — que vive o ponto extremo da delinqüência política sob o comando de Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães — aceitam, de bom grado, que Evo Morales nos tungue a Petrobras, mas creio que defenderiam uma resposta militar se o Brasil passasse a ser alvo diário de inimigos. Há dias, Lula afirmou que o Brasil precisa ser uma potência militar se quiser ser respeitado no mundo. Confesso que, dada a moral ora vigente no Planalto e na diplomacia nativa, prefiro que o país tenha, no máximo, aqueles fogos Caramuru, os únicos que, no nosso caso, não podem dar xabu... Lula merece, no máximo, ter um rojão ou aqueles fósforos coloridos de São João para brincar.

É dever de todo governo defender o seu território e a sua gente. Mas, curiosamente (ou nem tanto), pretende-se cassar de Israel o direito à reação. Por quê? O que grita na censura aos israelenses é a voz tenebrosa de um silêncio: essa gente é contra a existência do estado de Israel e acredita que só se obteria a paz no Oriente Médio com a sua extinção. Mas falta a essa canalha coragem para dizer claramente o que pretende. Nesse estrito sentido, um expoente do fascismo islâmico como Mahamoud Ahmadinejad, presidente do Irã, é mais honesto do que boa parte dos hipócritas europeus ou brasileiros. Ele não esconde o que pretende. Aliás, o Hamas também não: o fim da Israel é o segundo item do seu programa, sem o qual o grupo terrorista julga não cumprir adequadamente o primeiro: a defesa do que entende por fé islâmica.

Será que exagero? Que outra consideração estaria na origem da suposição de que um país deve se quedar inerme diante de uma chuva de foguetes em seu território? “Não, Reinaldo, o que se censura é o exagero, a reação desproporcional”. Tratarei desse argumento, essencialmente mentiroso e de ocasião, em outro post. Neste artigo, penso questões mais profundas, que estão na raiz do ódio a Israel. Como se considera que aquele estado é essencialmente ilegítimo, cobra-se dele, então, uma tolerância especial. Aliás, exigem-se dos judeus duas reações particulares, de que estariam dispensados outros povos.

Como os hipócritas do silêncio consideram que a criação de Israel foi uma violência, cobram que esse estado viva a pedir desculpas por existir e jamais reaja. Seria uma espécie de suicídio. Israel faria por conta própria o que várias nações islâmicas — em grupo, em par ou isoladamente — tentaram sem sucesso em 1956, em 1967 e em 1973: eliminar o país do mapa. Dói na consciência e no orgulho dos inimigos do país a constatação de que ele adquiriu o direito de existir na lei e na marra, na diplomacia e no campo de batalha.

A segunda reação particular guarda relação com o nazismo. Porque os judeus conheceram o horror, estariam moralmente proibidos de se comportar como senhores: teriam de ser eternamente vítimas. Ao povo judeu seria facultado despertar ódio ou piedade, mas jamais temor. Franceses, alemães, espanhóis, chineses, japoneses e até brasileiros cometeram ou cometem suas injustiças e violências — e todos esses povos souberam ou sabem ser impressionantemente cruéis em determinadas ocasiões e circunstâncias. Mas os judeus?! Eles não!!! Esperam-se passividade e mansidão pouco importa se são tomados como usurpadores ou vítimas. A anti-semitismo ainda pulsa, eis a verdade insofismável.

Tudo seria mais fácil se as posições fossem aclaradas. Acatar ou não a legitimidade do estado de Israel ajudaria muitas nações e muitas correntes político-ideológicas a se posicionar e a se pronunciar com clareza: “Sim, admito a existência de Israel e penso que aquele estado, quando atacado, tem o direito de se defender”. É o que pensa este escriba. Ou: “Não! Fez-se uma grande bobagem em 1948, e os valentes do Hamas formam, na verdade, uma frente de resistência ao invasor; assim, quando eles explodem uma pizzaria ou um ônibus escolar ou quando jogam foguetes, estão apenas defendendo um direito”. Mas os hipócritas não seriam o que são se não cobrissem o vício com o manto da virtude. Como não conseguem imaginar uma solução para alguns milhões de israelenses que não o mar — e, desta feita, sem Moisés para abri-lo —, então disfarçam o ódio a Israel com um conjunto pastoso de retóricas vagabundas: “pacifismo”, “antimilitarismo”, “reação proporcional”, “direito à resistência” etc.
Na imprensa brasileira, um jornalista como Janio de Freitas chegou a chamar o ataque aéreo a Gaza de “genocídio”, dando alguma altitude teórica à militância política anti-Israel — embora o próprio Hamas admita que a maioria das vítimas seja mesmo composta de militantes do grupo. Trata-se, claro, de uma provocação: sempre que Israel é acusado de “genocida”, pretende-se evocar a memória do Holocausto. Em uma única linha, sustenta-se, então, uma farsa gigantesca:

a) maximiza-se a tragédia presente dos palestinos;
b) minimiza-se a tragédia passada dos judeus:
c) apaga-se da história o fato de que o Hamas é a força agressora, e Israel, o país agredido;
d) equiparam-se os judeus aos nazistas que tentaram exterminá-los, o que, por razões que dispensam a exposição, diminui a culpa dos algozes;
e) cria-se uma equivalência que aponta para uma indagação monstruosa: não seria o povo vítima do Holocausto um tanto merecedor daquele destino já que incapaz de aprender com a história?

E pouco importa se os que falam em genocídio têm ou não consciência dessas implicações: o mal que sai da boca dos cínicos não vira virtude porque na boca dos tolos.
Em junho de 2007, esse mesmo Hamas foi à guerra contra o Fatah na Faixa de Gaza. E venceu. O grupo preferiu não fazer prisioneiros. Os que eram rendidos ou se rendiam eram executados com tiros na cabeça — muitas vezes, as mulheres e filhos das vítimas eram chamados para presenciar a cena. “O que ocorreu no centro de segurança [as execuções] foi a segunda liberação da Faixa de Gaza; a primeira delas foi a retirada das tropas e dos colonos de Israel da região, em setembro de 2005", disse então Sami Abu Zuhri, um membro do Hamas. “Estamos dizendo ao nosso povo que a era do passado acabou e não irá volta. A era da Justiça e da lei islâmica chegou", afirmou Islam Shahawan, porta-voz do grupo. Nezar Rayyan, também falando em nome dos terroristas, não teve dúvida: “Não haverá diálogo com o Fatah, apenas a espada e as armas. Desde 2006, quase 700 palestinos foram assassinados por rivais... palestinos.
Ódio a Israel
O ódio a Israel espalhado em várias correntes de opinião no Ocidente é caudatário da chamada “luta contra o Império”. O apoio ao país nunca foi tão modesto — em muitos casos, envergonhado. Não é coincidência que assim seja no exato momento em que se vislumbra o que se convencionou chamar de “declínio americano”. Israel é visto como uma espécie de enclave dos EUA no Oriente Médio. As esquerdas do mundo caíram de amores pelos vários sectarismos islâmicos, tomados como forças antiimperialistas, de resistência. Eu era ainda um quase adolescente (18 anos)— e de esquerda! — quando se deu a revolução no Irã, em 1979, e me perguntava por que os meus supostos parceiros de ideologia se encantavam tanto com o tal aiatolá Khomeini, que me parecia, e era, a negação, vejam só!, de alguns dos pressupostos que deveriam nos orientar — e o estado laico era um deles. Mas quê... A “luta antiimperialista” justificava tudo. O que era ruim para os EUA só poderia ser bom para o mundo e para as esquerdas. No poder, a primeira medida de Khomeini foi fuzilar os esquerdistas que haviam ajudado a fazer a revolução...

É ainda o ódio ao “Império” que leva os ditos “progressistas” do mundo a recorrer à vigarice intelectual a mais escancarada para censurar Israel e se alinhar com as “vítimas” palestinas. Abaixo, aponto alguns dos pilares da estupidez.

Mas o que é terrorismo?
Pergunte a qualquer “progressista” da imprensa ou de seu círculo de amizades se ele considera o Hamas um grupo “terrorista”. A resposta do meliante moral virá na forma de uma outra indagação: “Mas o que é terrorismo?” A luta “antiimperialista” torna esses humanistas uns relativistas. Eles dirão que a definição do que é ou não terrorismo decorre de uma visão ideológica, ditada por Washington, pela Otan, pelo Ocidente, pelo capitalismo, sei lá eu...

Esses canalhas são capazes de defender o “direito” que os ditadores islâmicos têm de definir os seus homens viciosos e virtuosos — “democracia não se impõe”, gritam —, mas, por qualquer razão que não saberiam explicar, acreditam, então, que Washington, a Otan, o Ocidente e o capitalismo não podem fazer as suas escolhas. E essas escolhas, vejam que coisa!, costumam ser justamente aquelas que garantem as liberdades democráticas. Se você disser que explodir bombas num ônibus escolar ou num supermercado, por exemplo, é terrorismo, logo responderão que isso não é diferente da ação de Israel na Faixa de Gaza, confundido a guerra declarada (e reativa!!!) com a ação insidiosa contra civis. Para esses humanistas, a ação contra Dresden certamente igualou os Aliados aos nazistas... Falei em nazistas? Ah, sim: os antiisraelenses gostam de comparar as ações do Hamas, do Hezbollah ou das Farc aos atos heróicos dos que lutaram contra o nazismo. Ao fazê-lo, não só igualam, então, os vários “terrorismos” como também os várias “estados da ordem”. No caso, o nazismo não se distinguiria dos governo de Israel, da Colômbia ou de qualquer outro estado que sofra com a ação terrorista.

Só querem a paz
Aqui e ali, leio textos indignados em nome da “paz”. E penso que o pacifismo pode ser uma coisa muito perigosa. Chamberlain e Daladier, que assinaram com Hitler o Acordo de Munique, que o digam. Como observou Churchill, entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e tiveram a guerra. Argumentos que remetem ao nazismo, sei disto, costumam desmoralizar um tanto o debate porque apelam sempre a uma situação extrema, que se considera única, irreproduzível. A questão, então, é como Israel pode fazer a paz com quem escolheu o caminho da guerra e só aceita a linguagem das armas e da morte. O Hamas é o inimigo que mora ao lado — e, com freqüência, dentro de Israel. Mas há os que estão um pouco mais distantes, como o Irã por exemplo. O que vocês acham que acontecerá quando (e se) os aiatolás estiverem prestes a ter uma bomba nuclear? Em nome da paz, senhores pacifistas, espero que Israel escolha a guerra. E ele escolherá, fiquem certos, concordem os EUA ou não.

A ação de Israel só fortalece o Hamas
Israel deixou o Sul do Líbano, e o Líbano foi entregue — sejamos claros — aos xiitas do Hezbollah. Israel deixou a Faixa de Gaza, e o Hamas expulsou de lá os corruptos moderados da Fatah, não sem antes fuzilar todos os que foram feitos prisioneiros na guerra civil palestina. Isso indica um padrão, pouco importa a vertente religiosa dos sectários. A guerra desastrada contra a facção xiita no Líbano, muito mais poderosa do que o inimigo de agora, significou, de fato, uma lição amarga aos israelenses: se a ação militar não cumpre o propósito a que se destina, ela, com efeito, só fortalece o inimigo. Na prática, é o que pedem os que clamam pela suspensão dos ataques à Faixa de Gaza: querem que Israel dispare contra a sua própria segurança.
O argumento de que os ataques só fortalecem o Hamas porque fazem do grupo heróis de uma luta de resistência saem, não por acaso, da boca de intelectuais palestinos ou de esquerda. Cumpre perguntar se, no status anterior, havia algum sinal de que os palestinos de Gaza estavam descontentes com os terroristas que os governam. Mais uma vez, está-se diante de uma leitura curiosa: a única maneiras de Israel não fortalecer o Hamas seria suportar os foguetes disparados pelo... Hamas! Como se vê, os argumentos passam pelos mais estranhos caminhos e todos eles cobram que os israelenses se conformem com os ataques.

A volta a 1948
Aqui e ali, leio que o estado de Israel só é defensável se devolvido à demarcação definida pela ONU em 1948. Digamos, só para raciocinar, que se possa anular a história da região dos últimos 60 anos... Os inimigos do país considerariam essa condição suficiente para admitir a existência do estado judeu? A resposta, mesmo diante de uma hipótese improvável, é “NÃO”. Mesmo as facções ditas moderadas reivindicam a volta do que chamam “os refugiados”, que teriam sido “expulsos” de suas terras — terras que, na maioria das vezes, foram compradas, é bom que se lembre. Tal reivindicação é só uma maneira oblíqua de se defender que Israel deixe de ser um estado judeu — e, pois, que deixe de ser Israel. E isso nos devolve ao começo deste texto.
Aceita-se ou não a existência de um estado judeu? Israel está muito longe, no curtíssimo prazo, dos perigos que, com efeito, viveu em 1967 e em 1973. Não obstante, sustento que nunca correu tanto risco como agora. Desde a sua criação, jamais se viu tamanha conspiração de fatores que concorrem contra a sua existência:

— a chamada “causa palestina” foi adotada pela imprensa ocidental — mesmo a americana, tradicionalmente pró-Israel, mostra-se um tanto tímida;

— o antiamericanismo, exacerbado pela reação contra a guerra no Iraque, conseguiu transformar o terrorismo em ação de resistência;

— os desastres da era Bush transferem para os aliados dos EUA, como Israel, parte da reação negativa ao governo americano;

— os palestinos dominam todo o ciclo do marketing da morte e se tornaram os “excluídos” de estimação do pensamento politicamente correto: o que são 300 mil mortos no Sudão e 3 milhões de refugiados perto de 500 mortos na Faixa da Gaza, a maioria deles terroristas do Hamas? A morte de qualquer homem nos diminui, claro, claro, mas a de alguns homens excita mais a fúria justiceira: a dos sudaneses não excita ninguém...;

— um estado delinqüente, como é o Irã — que tem em sua pauta a destruição de Israel —, busca romper o isolamento internacional aliando-se a inimigos estratégicos dos EUA;

— a Europa ensaia dividir a cena da hegemonia ocidental com os EUA sem ter a mesma clareza sobre o que é e o que não é aceitável no que concerne à segurança de Israel;

— atribui-se ao próprio estado de Israel o fortalecimento dos seus inimigos, num paradoxo curioso: considera-se que o combate a seus agressores só os fortalece, ignorando-se o motivo por que, afinal, ele decidiu combatê-los...

Sim ou não à existência de Israel? Sem essa primeira resposta, não se pode começar um diálogo. Ou romper de vez o diálogo. Sem essa resposta, o resto é conversa mole.