terça-feira, 12 de outubro de 2010

A ABADIA, A CATEDRAL E A CAPELA DE WESTMINSTER.



Por Judiclay S. Santos
Certa vez, ao conversar com um amigo que havia morado em Londres e tinha retornado ao Brasil, perguntei se ele tinha visitado a Capela de Westminster, (onde por décadas o notável pregador galês, Martin Lloyd Jones exerceu poderosa influencia por meio da pregação expositiva). Para minha surpresa, ele me disse que a Capela de Westminster agora era praticamente um ponto de visitação turística, uma espécie de museu da fé. Não havia, segundo ele, cultos regulares, mas apenas celebrações especiais e cerimônias oficiais da coroa inglesa. Ficou evidente que ele estava confundido, a Capela de Westminster, com a Abadia de Westminster. Tal como aconteceu com esse amigo, outros podem cometer o mesmo equívoco. Alguns se referem à Capela como sendo a Catedral de Westminster.

A Abadia, a Catedral e a Capela de Westminster são três edifícios distintos na cidade de Londres. Uma das razões pelas quais propus escrever este artigo é esclarecer que existe uma real e profunda distinção não apenas na história dessas três igrejas, mas, sobretudo em sua teologia e prática (As três igrejas são, na seqüência, Anglicana, Católica e Evangélica).
Em uma recente viagem a Inglaterra, tive a oportunidade de visitar essas três diferentes igrejas e constatar ao vivo e a cores, o que sabia por meio dos livros. Permita que eu compartilhe com você um pouco dessa história.

A ABADIA DE WESTMINSTER




A Abadia de Westminster é um templo anglicano, considerada por muitos, a Igreja mais importante de Londres. A igreja atual, iniciada por Henrique III em 1245, é um dos mais importantes edifícios góticos da Inglaterra.
SÍNTESE HISTÓRICA
Há registros de que o primeiro local de culto onde hoje se encontra a Westminster Abbey foi fundado no ano 616. A data oficial de fundação é o ano de 960, quando São Dunstan da Cantuária fundou no local uma comunidade de Monges Beneditinos. No entanto, só entre os anos de 1045 e 1050 é que foi construída a abadia em pedra pelo Rei Eduardo, o Confessor. A Abadia foi consagrada em 28 de dezembro de 1065.

O Rei Henrique III modificou a Abadia, adoptando um estilo gótico Anglo-Francês, mas as obras só terminaram no reinado de Ricardo II.
Em 1534, Henrique VIII aprova o Ato de Supremacia pelo qual separa a Igreja de Inglaterra da Igreja Católica e entre 1538 e 1541 levou a cabo a Supressão dos Mosteiros em Inglaterra, Gales e Irlanda, confiscando as suas propriedades.
Durante o Reinado da Católica Maria I, a Abadia foi devolvida aos Beneditinos que voltaram a ser expulsos durante o reinado de Isabel I. Esta transformou-a na Colegiada de São Pedro, diretamente dependente da Coroa e não do Bispado, sendo assim uma Royal Peculiar.
As duas torres da abadia foram erguidas entre 1722 e 1745 e projetadas por Nicholas Hawksmoor. Até ao século XIX a Abadia era o terceiro estabelecimento de ensino superior em Inglaterra, após Oxford e Cambridge. Nesta Abadia foi concretizada a tradução de parte da King James, a Bíblia do Rei James.
Ao longo dos séculos tem tido um papel relevante na história da Inglaterra e do Reino Unido, como palco de inúmeras coroações e casamentos reais. Ali também estão sepultados 17 monarcas ingleses e muitos membros da família real. Além da realeza, algumas personalidades destacadas no meio ciêntífico e cultural obtiveram a honra de serem enterradas na abadia, como foi o caso de Geoffrey Chaucer, David Livingstone, William Shakespeare e Alexander Pope. Logo a prática de honrar ilustres britânicos se tornou um costume. Também foram sepultados lá, Sir Isaac Newton e Charles Darwin. Curiosamente, há mais de 3.000 pessoas sepultadas na igreja e mais de 600 monumentos e memoriais.


A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER

A Abadia de Westminster é muito especial para os reformados, pois foi ali que uma das principais Confissões de Fé foi elaborada. Encorajados pelos puritanos ingleses, que sonhavam por uma reforma profunda na Igreja da Inglaterra, a fim de ter uma forma de governo, doutrinas e cultos mais puros, o parlamento convocou a Assembléia de Westminster, composta de 121 dos mais capazes pastores da Inglaterra, 20 membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes. Todos os 121 teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra, na sua maioria, calvinistas.
A Assembléia se reuniu na Abadia de Westminster, em Londres, a partir de 1º de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e subcomissões.

A Assembléia de Westminster caracterizou-se não somente pela erudição teológica, mas por uma profunda espiritualidade. Gastava-se muito tempo em oração e tudo era feito em um espírito de reverência. Cada documento produzido era encaminhado ao parlamento para aprovação, o que só acontecia após muita discussão e estudo. Os chamados “Padrões Presbiterianos” elaborados pela Assembléia foram os seguintes:

• Diretório do Culto Público: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo parlamento no mês seguinte. Tomou o lugar do Livro de Oração Comum. Também foi preparado o Saltério: uma versão métrica dos Salmos para uso no culto (novembro de 1645).
• Forma de Governo Eclesiástico: Concluída em 1644 e aprovada pelo parlamento em 1648. Instituiu a forma de governo presbiteriano em lugar da episcopal, com seus bispos e arcebispos.
• Confissão de Fé: concluída em dezembro de 1646 e sancionada pelo parlamento em março de 1648.
• Catecismo Maior e Breve Catecismo: concluídos no final de 1647 e aprovados pelo parlamento em março de 1648.

Para consulta mais detalhada sobre a Assembléia de Westminster, o texto do Dr. Alderi de Souza matos é muito útil. Acesse: http://www.mackenzie.com.br/7121.html

O MUSEU E OS CULTOS NA ABADIA

A Abadia recebe turista de todo mundo, de fato é um centro turístico muito visitado. Existe um rico Museu instalado na galeria subterrânea da abobadada magnífica sob o dormitório dos monges antigos. Esta é uma das áreas mais antigas da Abadia. Longe do que ouvi dizer, pelo que vi e, segundo o site oficial da Westminster Abbedey, “Cada domingo, cinco sermões separados são entregues na Abadia de Westminster ou St Margaret's (A Igreja de Santa Margarida que fica entre a Abadia e as casas dos Parlamentos, comumente chamada de “igreja paroquial da Casa dos Comuns). O clero da Abadia e seus ilustres convidados pregadores abordam questões teológicas e eventos em foco no mundo. Por ser a principal igreja da Inglaterra, suas atividades são diferenciadas “A vida da Abadia de Westminster gira em torno do padrão diário de adoração, oração da manhã, Vésperas e Eucaristia. Além disso, a Abadia abriga uma série de serviços durante todo o ano para marcar os aniversários e ocasiões especiais na vida da nação.
CATEDRAL DE WESTMINSTER

A Catedral de Westmister é um templo Católico e uma das igrejas mais visitadas da Inglaterra. Pessoas do mundo inteiro visitam essa famosa igreja no coração de Londres. Esse fluxo de pessoas se dá por vários motivos. Embora a razão principal seja a crença religiosa – ali são realizadas sete missas por dia, existem outras razões. Isso inclui o fascínio que o edifício exerce sobre os amantes da arquitetura e da arte. De fato o prédio revela uma grande exuberância arquitetônica. Ao visitar o interior da Catedral, o turista fica impressionado com os mosaicos e o mármore fino. As catorze estações da Via Sacra, de autoria do escultor Eric Gill, são mundialmente famosas. A torre, com seus 60 metros de altura testifica a singularidade do edifício.

SÍNTESE HISTÓRICA

O Sítio onde hoje está situada a Catedral era originalmente conhecido como Bulinga Fen e fazia parte do pântano em torno de Westminster. Foi recuperado pelos monges beneditinos que eram os construtores e proprietários da Abadia de Westminster e, posteriormente, utilizado como um mercado e feira.

No século 17 uma parte do terreno foi vendido pela Abadia para a construção de um presídio que foi demolido e substituído por um complexo penitenciário em 1834.

O local foi adquirido pela Igreja Católica em 1834, na pessoa do Cardeal Manning. Dez anos depois, o Cardeal Herbert Vaughan, o terceiro arcebispo de Westminster, escolheu e contratou os serviços de John Francis Bentley (1839-1902) um dos mais celebrados arquitetos vitorianos.

Com o propósito de fazer um excelente projeto de construção, Bentley passou quatro meses no exterior e visitou algumas das mais famosas catedrais bizantinas. Buscou inspiração na Hagia Sophia, na San Vitale em Ravenna e de São Marcos, em Veneza. Em Roma, foi recebido em audiência privada pelo Papa Leão XIII, que concedeu uma bênção especial sobre o arquiteto e sua grande tarefa de projetar “uma catedral digna no coração de Londres”.

A pedra fundamental foi lançada em 1895 e a estrutura do edifício foi terminada oito anos depois. Existem muitas datas significativas na história da Catedral. Em 1912 sediou o Congresso Eucarístico, que contou com a presença de 7 cardeais, 131 bispos e 4.000 sacerdotes. Em 1982 recebeu a visita do Papa João Paulo II. Um acontecimento inédito ocorreu em 1995, a visita de Sua Majestade a Rainha durante as celebrações do centenário. Primeira participação de um soberano em uma liturgia católica romana. No corrente ano, o Papa Bento XVI, em sua estada no Reino Unido, visitou a Catedral.

Com a colocação da primeira pedra, em Junho de 1895, a Catedral foi dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, à sua Mãe Santíssima, seu pai adotivo, São José e São Pedro, seu vigário. Há patronos secundários, também: Santo Agostinho e todos os santos britânico, St Patrick e todos os santos da Irlanda.


Na porta da Catedral, uma frase em latim ecoa a maior necessidade do ser humano: Domine Jesu Redemptor REX ET POR NOS SALVA sanguinem tuum .(Senhor Jesus, Rei e Redentor, salva-nos com o teu sangue)

Creio que o precioso e suficiente sangue de Cristo pode salvar o pecador dos laços da religião do mérito, da justiça própria, das obras como meio de salvação, da idolatria e do paganismo.

CAPELA DE WESTMINSTER
Uma das maiores emoções que experimentei na Inglaterra foi visitar a Westminster Chapel. Sou eternamente grato a Deus pela oportunidade de conhecer a igreja onde o notável Martin Lloyd Jones exerceu um dos mais influentes ministérios do século 20. Ainda hoje, vinte e nove anos depois de sua morte, Lloyd Jones continua exercendo uma benéfica influência, em particular sobre a vida de pastores de várias partes do mundo. O seu legado consiste não apenas do seu riquíssimo acervo de livros e mensagens, mas, sobretudo do seu testemunho pessoal do que significa ter autoridade espiritual, zelo pela Palavra e paixão pela glória de Deus. A biografia de Lloyd Jones está intimamente ligada a história da Capela de Westminster.

SÍNTESE HISTÓRICA


A história da Capela é uma ilustração viva da sábia providência divina e da majestosa soberania de Deus. Um pequeno grupo de 22 cristãos, fundou a Capela em maio de 1841, no bairro de Buckingham Gate. O primeiro ministro da Capela de Westminster foi o pastor Samuel Martin, que conduziu a igreja numa série de ações sociais no bairro, à época uma região muito pobre. Casas e escolas foram construídas, muitos órfãos foram atendidos e organizações para homens desempregados foram criadas para qualificar e encaminhar pais de família para o mercado de trabalho. Tais ações chamaram atenção da liderança cristã em Londres bem como da opinião pública. Em pouco tempo, a Capela, projetada para 500 pessoas seria insuficiente para atender a quantidade de pessoas freqüentavam os seus cultos.

Uma nova construção, com capacidade para 1.500 lugares foi projetada e construída. Sua inauguração foi em 1864 sendo o mesmo edifício até hoje. A igreja estava vivendo dias memoráveis e um derramamento especial da graça de Deus era perceptível.

No entanto, os primeiros anos do século 20 revelaram-se um tempo de provação para a igreja. Após a morte de pastor Samuel Martin, em 1878, a congregação ficou sem liderança e sem direção clara durante algum tempo. Inclusive havia rumores de venda do local para construir pequenos edifícios em Londres, já que muitos deixaram a Igreja. Foi quando a sábia mão da providência se revelou.

No ano de 1904 um pregador Gloucestershire, o talentoso professor, o Dr. George Campbell Morgan assumiu o pastorado da Capela. A igreja cresceu muito sob a sua liderança. Uma multidão se reuniu e encheu o prédio mais uma vez. A igreja estava envolvida em missões no exterior, ação social, formação dos jovens, homens e mulheres, e tinha uma excelente e bem freqüentada a Escola Bíblica.

Book Shop da igrejaAo perceber que estava na hora de encerrar o seu ministério, o Dr. Morgan encontrou na pessoa do Dr. David Martin Lloyd Jones, um assistente e mais tarde um notável sucessor. O Martyn Lloyd-Jones, chegou à capela em 1938, pouco antes do início dos dias sombrios da Segunda Guerra Mundial. Ali permaneceria por mais de três décadas. Ele carregou o legado do Dr. Morgan, falando com a lógica irresistível e profunda percepção, sob o poder do Espírito Santo, sua pregação era “lógica em fogo”. Com uma profunda convicção bíblica, orava pedindo a Deus um reavivamento. Lloyd Jones entendia que a proclamação do Evangelho era a única esperança do homem nesses tempos turbulentos. Suas exposições bíblicas do Sermão da Montanha, das cartas de Paulo aos Efésios e aos Romanos, juntamente com muitas outras séries de mensagens estão em circulação em todo mundo, chegando aos milhões de exemplares. Lloyd Jones foi um dos maiores pregadores de língua inglesa de todos os tempos.

Com a sua aposentadoria em 1968, o pastor J. Glyn Owen assumiu o pastorado da Capela por um breve período de três anos. Seu sucessor, foi um pastor evangélico americano, Dr. RT Kendall. Desde a sua adesão em 1977, exerceu um pastorado de grande influência através da pregação. Publicou mais de quarenta livros e milhares de gravações que brotou do seu ministério fiel de 25 anos.

Com a aposentadoria do Dr. Kendall, em 2002, o Rev Greg Haslam assumiu o pastorado da Capela e ali permanece até hoje, anunciando o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo.

Quando o pastor George Campbell Morgan pregou o seu último sermão na Capela de Westminster ele fez uma preciosa declaração. Ele disse ao seu rebanho que estava saindo, mas a presença de Deus continuaria entre eles. Naquela manhã de domingo, ao participar daquele memorável culto reconheci o Dr. Morgan estava certo. Ao visitar a Capela de Westminster fui grandemente edificado e pude perceber a presença do Senhor entre aqueles irmãos. Soli Deo Gloria!

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