terça-feira, 16 de setembro de 2008

Operação Market-Garden: o fiasco dos Aliados na 2° Guerra Mundial.

Há 54 anos, no dia 17 de setembro de 1944, foi dada início a uma operação que pretendia por fim a guerra até o natal daquele ano. Mas, a operação foi um grande fiasco que culminou em muitas mortes, de ambos os lados. Se você estiver interessado em conhecer um pouco mais essa história, continue a leitura. Sugiro também que você assista o premiado filme A Bridge too Far que conta em detalhes como tudo aconteceu. Trata-se de uma aula de história.

Operação Market-Garden
Quando, em Setembro de 1944, os Aliados confrontados com dificuldades nas linhas de abastecimentos e com o endurecer da resistência alemã, o general Montgomery imaginou e mandou executar um dos mais engenhosos planos para aniquilar, antes do novo ano, o exército alemão.

Após quase dois meses de inatividade no difícil terreno da Normandia, os Aliados quebraram a linha defensiva alemã, dando início a um rápido e fulgurante avanço que levaria o XXI Exército até ao Canal Mosela-Escala já na fronteira com a Holanda. A 11 de Setembro, Montgomery encontrava-se a pouco mais de 160 quilómetros de Ruhr, uma das mais importantes regiões industriais da Alemanha. Nessa mesma data, o III Exército dos Estados Unidos comandado por Patton, alcançava o Sarre, outra região fabril vital para o esforço de guerra alemão.O plano de Montgomery, apresentado a Eisenhower no dia 10, consistia em usar a porta de serviço mais próxima - a Holanda - contando com o apoio de tropas aerotransportadas lançadas na retaguarda das linhas alemãs, as quais teriam por objetivo conquistar cinco pontes estratégicas da estrada entre Eindhoven e Arnhem.Tomadas as pontes caberia, ainda de acordo com o plano elaborado por Montgomery, à força aérea limpar o terreno por onde avançariam o 11º Exército britânico que, com a testa de ponte em Arnhem, não teria qualquer dificuldade em atingir Ruhr.

Seduzido pelo plano, se bem que não totalmente convencido da sua eficácia, Eisenhower deu luz verde a Montgomery. Este iniciou, de imediato, os preparativos da operação, baptizada com o nome de código de
Market Garden, que deveria ter lugar no dia 17 de Setembro.

Ponte de Arnhem: objetivo estratégico

Na Inglaterra ultimavam-se os preparativos para a maior operação aérea realizada até então, envolvendo 5 mil aviões e três divisões - a 1ª Divisão britânica e a 82ª e 101ª Divisões norte-americanas - contando ainda com o apoio da Brigada de pára-quedistas polacos. O número de homens e meios necessários obrigavam a prolongar as operações de transporte por três dias.
Na data prevista para o início da operação, 17 de Setembro, a 101ª Divisão dos EUA deveria tomar posição próximo de Eindhoven, abrindo a frente Sul; a 82ª Divisão deveria assegurar as posições situadas a meio caminho entre Eindhoven e Arnhem, cabendo-lhe tomar a ponte de Nimega. O ponto-chave de toda a operação, a ponte de Arnhem - uma centena de quilómetros a Norte das posições das forças terrestres - ficaria a cargo dos homens da 1ª Divisão Aérea Britânica, comandada pelo general Robert Urquarth.
A missão confiada a Urquarth e aos seus Diabos Vermelhos não primava pela facilidade, já que deveriam conquistar e manter as posições até à chegada da Infantaria e da Cavalaria, correndo o risco de ficar isolados caso estas últimas forças fossem travadas pelo inimigo.

Dificuldades inesperadas

Impossibilitado de transportar a totalidade dos homens e do material num só dia, Urquarth viu-se forçado a escolher um local distante da ponte de Arnhem para largar os seus homens, perdendo a vantagem da surpresa e arriscando-se a sofrer algumas baixas na progressão até ao alvo. Ao tomar conhecimento de que os alemães haviam instalado uma linha de defesa antiaérea junto a Arnhem, a RAF escolheu Renkum, doze quilómetros a Oeste do alvo, como posto de lançamento dos pára-quedistas. A partir daí seria lançado o ataque a Arnhem.
No meio da manhã de 17 de Setembro, um domingo, 4.700 aviões deixavam as bases inglesas. Às 13 horas e 30 minutos desse mesmo dia, os primeiros pára-quedistas tocavam solo holandês e, quase sem resistência, avançavam em direção ao seu objetivo.
De início tudo correu de acordo com o plano. Os planadores e os pára-quedistas chegaram ao solo sem qualquer problema, encontrando aqui e ali uma débil resistência por parte dos alemães, saudados à sua passagem por civis holandeses que lhes ofereciam flores, fruta e leite.
Depois, e ao contrário do previsto, foram obrigados a enfrentar duas divisões de blindados das SS que, ao compreenderem as intenções dos Aliados, encetaram um rápido avanço em direção à ponte de Arnhem.
Do lado dos Aliados, apanhados de surpresa pelo valor das tropas alemãs no terreno, a 1ª Brigada Aerotransportada britânica esforçava-se na manutenção da supremacia nas zonas escolhidas para a chegada da segunda vaga de assalto, agendada para a manhã do dia seguinte.
A segunda surpresa desagradável surgiu no momento que atingiram as primeiras aglomerações urbanas e as zonas densamente arborizadas: nesses locais, com conseqüências que se viriam a revelar trágicas, os rádios não funcionavam, privando a 1ª Brigada de contactos entre si e com as restantes forças.
O imenso fogo alemão impediu que os homens dos 1º e 3º Batalhões progredissem na estrada principal de Arnhem, obrigando-os a escolher estradas secundárias, uma manobra que os faria perder tempo e mobilidade no terreno. Menos problemas tiveram os homens do 2º Batalhão, sob o comando de
John Frost, que se movimentaram por uma estrada secundária.

Pouco depois, a calma daria lugar a uma violenta batalha. As investidas dos pára-quedistas do lado Sul da ponte revelar-se-iam infrutíferas, com as tropas alemãs a repelirem, um após outro, os ataques dos Aliados. A única nota positiva foi a impossibilidade de o comandante do II Grupo de Panzers das SS, Wilhelm Bittrich, enviar uma das suas divisões para reforçar as defesas de Nimega.

A carga das SS

A noite ficou marcada pelo recrudescer da violência. Uma após outra, em vagas consecutivas, as unidades alemãs lançaram-se ao assalto das posições defendidas pelos britânicos.
As armas ligeiras de que dispunham os soldados britânicos revelaram-se insuficientes para deter o avanço alemão. Mesmo assim, num combate desigual, os alemães acabariam por perder 22 carros blindados.
Travado pelos alemães, o general Urquarth - escondido durante 40 horas numa quinta no interior das linhas germânicas - viu-se impossibilitado de coordenar e participar numa das fases mais críticas e decisivas da batalha.
Mais tarde, já instalado no Hotel Hartenstein - no qual estava sediado o comando das tropas - Urquarth tomou, finalmente, conhecimento da situação dramática que se vivia na frente. Para cúmulo, a segunda vaga de assalto chegara com quatro horas de atraso e encontrava-se dispersa por uma zona demasiado ampla. E, como se não bastara, os pára-quedistas eram forçados a defender-se dos ataques dos carros de combate inimigos dispondo unicamente de armas ligeiras.
Terça-feira o cenário tornou-se ainda mais complicado. Frost continuava à espera dos reforços indispensáveis à conquista da ponte só que o nevoeiro que se fazia sentir impediu o transporte da brigada polaca para Arnhem. Urquarth, por seu turno viu-se privado de abastecimentos.
Perante este panorama sombrio, Urquarth, ciente de que as suas forças estavam irremediavelmente perdidas, acabaria por tomar uma decisão que tinha tanto de difícil como de inevitável: pôr termo às acções de conquista da ponte, fazendo recuar os batalhões que restavam da sua divisão até Hartenstein, deixando isolados os homens do 2º Batalhão. Em contrapartida, o regresso dos referidos batalhões permitiria defender Hartenstein até à chegada das forças terrestres.

Tragédia em Arnhem

Os homens do 2º Batalhão estavam exaustos. Quarta-feira, três dias depois de terem chegado a Arnhem, as hipóteses de sobrevivência eram poucas ou nenhumas. Os carros de combate alemães cruzavam livremente a ponte, avançando uma e outra vez contra as posições britânicas que, a 21, cederiam definitivamente.Os reforços chegariam apenas ao final do dia. Após um duro combate com as tropas alemãs, duas centenas de homens da Brigada polaca chegavam a Driel e, pouco depois, cruzam o rio e unem-se aos pára-quedistas britânicos. Na manhã do dia seguinte, uma unidade de Cavalaria britânica estabelece ligação com parte das exaustas forças aerotransportadas e com as forças terrestres.
No Sábado e no Domingo, com a situação dos homens de Urquarth a piorar de hora para hora, a Infantaria britânica alcança a margem oposta àquela em que se encontravam os pára-quedistas, completamente privados de meios de subsistência e de defesa. A ordem para a retirada das tropas foi dada na madrugada de 25 de Setembro. Na noite desse mesmo dia iniciou-se a operação Berlim. Filas de soldados, completamente esgotados, caminharam em silêncio até ao rio, sendo recolhidos por lanchas do II Exército britânico. Estava terminada a Operação Market Garden.Para a História ficava uma das mais gloriosas páginas do Exército britânico, escrita pelos homens da 1ª Divisão Aérea. Feitos que, contudo, não foram suficientes para evitar o fracasso da Operação Market-Garden.

As forças de Urquarth foram praticamente aniquiladas: dos mais de 10 mil soldados que lutaram em Arnhem regressaram pouco mais de 2.700. Do lado alemão, apesar de a batalha ter corrido a seu favor, as baixas foram igualmente pesadas, tendo perdido, ao longo dos 10 dias que duraram os combates, cerca de 3 mil homens.
Finda a batalha, os alemães retiraram todos os civis de Arnhem, deixando completamente deserta esta localidade holandesa.

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