Em fevereiro de 1929 o ditador italiano Benito Mussolini assinou um tratado com a Igreja Católica, selando a paz entre o Estado Italiano e a Santa Sé. A benção do Sumo Pontífice ao acordo de certo modo legitimou o líder fascista aos olhos do mundo católico e sedimentou uma estranha aliança entre um regime político que exaltava a violência e a guerra com uma religião que enaltecia o amor e a concórdia.
Da crítica à Igreja à aliança com o Papado
É interessante observar que a aliança entre o fascismo e o catolicismo não surgiu nos primeiros instantes. Ainda durante o Iº Congresso Nacional Fascista, realizado em Florença, em agosto de 1919, o poeta futurista Marinetti clamou pela "desvaticanização" da Itália, exigindo a conseqüente apropriação dos bens das ordens religiosas e a expulsão do Papa do país. Mussolini, por igual, iniciou-se na política como um anticlerical fervoroso, sendo que nos seus tempos de militante socialista havia afirmado, "quer à testa da Igreja esteja o jesuíta ou o modernista, sempre vemos nela a típica organização para exploração das consciências, o constante aliado do patrão, o núcleo de todas as forças reacionárias".
Pouco mais tarde, líder dos squadristi e caudilho de uma poderosa contra-revolução nacional, a situação se alterava. Em maio de 1920, antes de desencadear a Marcha sobre Roma, disse a um espantado IIº Congresso Nacional Fascista que o Vaticano representava "quatrocentos milhões de homens espalhados pelo mundo" e que uma política inteligente deveria usar essa "colossal força" para nossos próprios fins em vez de antagonizá-la!
Naquela ocasião deu-se o início da política fascista de aproximação com a Igreja Católica, que se consolidaria nove anos depois com a assinatura do Tratado e da Concordata no Palácio de Latrão.
Os motivos dessa aproximação, cada vez mais intensa, são simples: o ditador via na Igreja Católica a última representante do imperialismo romano e, como desejava reviver o espírito expansionista dos Césares, nada melhor do que contar com o apoio do Catolicismo. O novo César queria ocupar o espaço espiritual já estabelecido há séculos pelo trabalho de catequese da Igreja, logo bastava fazer algumas concessões ao Papado para que o sacerdote católico estendesse a mão ao legionário fascista para assim, em conjunto, realizarem um projeto de restauração: com isso o antigo totalitarismo teocrático aliava-se ao novo totalitarismo laico para fazer reviver as glórias da Roma Imperial. Provavelmente também seduziu Mussolini a idéia romântica de que ele fosse um Cola di Renzo (1313-1354) ressurgido do passado. Um aventureiro que, em nome do papa Clemente VI, de quem fora notário e tribuno, implantara uma ditadura em Roma, a partir de 1344, na tentativa de reerguer a grandeza do antigo império.
Da crítica à Igreja à aliança com o Papado
É interessante observar que a aliança entre o fascismo e o catolicismo não surgiu nos primeiros instantes. Ainda durante o Iº Congresso Nacional Fascista, realizado em Florença, em agosto de 1919, o poeta futurista Marinetti clamou pela "desvaticanização" da Itália, exigindo a conseqüente apropriação dos bens das ordens religiosas e a expulsão do Papa do país. Mussolini, por igual, iniciou-se na política como um anticlerical fervoroso, sendo que nos seus tempos de militante socialista havia afirmado, "quer à testa da Igreja esteja o jesuíta ou o modernista, sempre vemos nela a típica organização para exploração das consciências, o constante aliado do patrão, o núcleo de todas as forças reacionárias".
Pouco mais tarde, líder dos squadristi e caudilho de uma poderosa contra-revolução nacional, a situação se alterava. Em maio de 1920, antes de desencadear a Marcha sobre Roma, disse a um espantado IIº Congresso Nacional Fascista que o Vaticano representava "quatrocentos milhões de homens espalhados pelo mundo" e que uma política inteligente deveria usar essa "colossal força" para nossos próprios fins em vez de antagonizá-la!
Naquela ocasião deu-se o início da política fascista de aproximação com a Igreja Católica, que se consolidaria nove anos depois com a assinatura do Tratado e da Concordata no Palácio de Latrão.
Os motivos dessa aproximação, cada vez mais intensa, são simples: o ditador via na Igreja Católica a última representante do imperialismo romano e, como desejava reviver o espírito expansionista dos Césares, nada melhor do que contar com o apoio do Catolicismo. O novo César queria ocupar o espaço espiritual já estabelecido há séculos pelo trabalho de catequese da Igreja, logo bastava fazer algumas concessões ao Papado para que o sacerdote católico estendesse a mão ao legionário fascista para assim, em conjunto, realizarem um projeto de restauração: com isso o antigo totalitarismo teocrático aliava-se ao novo totalitarismo laico para fazer reviver as glórias da Roma Imperial. Provavelmente também seduziu Mussolini a idéia romântica de que ele fosse um Cola di Renzo (1313-1354) ressurgido do passado. Um aventureiro que, em nome do papa Clemente VI, de quem fora notário e tribuno, implantara uma ditadura em Roma, a partir de 1344, na tentativa de reerguer a grandeza do antigo império.
As razões de Pio XI para buscar uma aliança também são claras. O fascismo, de certo modo, era a última oportunidade da Igreja Católica para voltar a exercer influência sobre a sociedade civil. Desde a adoção universal da política liberal de separação do Estado e da Igreja, nenhuma outra oportunidade para o restabelecimento do poder religioso havia surgido. A isso se somou o arraigado anticomunismo da Igreja Católica. Pio XI, quando era núncio na Polônia, mobilizara-se junto ao general Pilsudski para repelir os soviéticos das portas de Varsóvia em 1920. Desde então, o papa entendeu ser o fascismo uma "barreira contra o comunismo" e, portanto, um aliado tático da Igreja Católica em curto prazo e um instrumento estratégico em longo prazo.
As negociações finais foram encabeçadas pelo próprio duce. A Concordata estabeleceu os seguintes pontos fundamentais: 1) o Estado Fascista reconhecia a autonomia da hierarquia eclesiástica como uma sociedade auto-regulada e privilegiada dentro da sociedade nacional; 2) transferia do Estado para a Igreja o controle dos casamentos entre católicos; 3) Impunha o ensino obrigatório da doutrina católica em todos os centros de ensino secundários e nas escolas elementares. Além disso, o Estado reconhecia todas as organizações relacionadas com a Azione Cattolica - a principal instituição católica a atuar na sociedade civil.
O Vaticano ainda foi beneficiado com 750 milhões de liras a título de indenização pela perda dos estados pontifícios, ocorrida em 1861-2, bem como teve direito a usufruir de títulos de renda correspondentes a um bilhão de liras ao interesse de 5%.
Assim sendo, em fevereiro de 1929, o ditador italiano Benito Mussolini assinou um tratado com a Igreja Católica, selando a paz entre o Estado Italiano e a Santa Sé. O cardeal estava tão emocionado com o acontecimento que não pôde terminar a leitura da carta credencial, tendo-a passado a Eugênio Roncalli, o Secretário de Assuntos Extraordinários da Sagrada Congregação, que leu os documentos com voz mais firme. Encerravam-se, assim, quase quatro anos de delicadas negociações entre o Estado Fascista e a Igreja Católica, acertando-se que:
Em nome da Santíssima Trindade,
Atenta:
Que a Santa Sé e a Itália reconhecem que convém descartar toda causa de diferença existente entre as duas e de acertar um regulamento definitivo entre suas relações recíprocas que esteja de acordo com a justiça e a dignidade das duas Altas Partes, e que, assegurem à Santa Sé, de uma maneira estável, uma situação de fato e de direito que garantam a sua independência absoluta para que ela possa cumprir com sua elevada missão no mundo, permitindo a esta mesma Santa Sé reconhecer resolvida de maneira absoluta , de modo definitivo e irrevogável, a "Questão Romana", nascida em 1870 durante a anexação de Roma ao reino da Itália sob a dinastia Sabóia;
É preciso assegurar à Santa Sé a independência absoluta e visível. Garanti-la de uma soberania indiscutível no domino internacional, e que, por conseguinte, é preciso constar a necessidade de constituir, através de modalidades particulares, a Cidade do Vaticano, reconhecendo, sobre este território, a plena propriedade, o poder exclusivo, absoluto, e a jurisdição soberana da Santa Sé.
Os resultados imediatos foram tão satisfatórios que Pio XI exultou e não se conteve em afirmar que o duce havia sido enviado pela Providência, segundo suas próprias palavras: “Um homem era necessário como aquele que a providencia colocou em nosso caminho: um homem que não partilhasse as preocupações da escola liberal..." (Pio XI sobre Mussolini, 1929). Passados exatos 10 anos, a despeito de todos os absurdos praticados por Mussolini, o Papa reiterou: "Il più grande uomo da me conosciuto, e senz’altro tra i più profondamente buoni ( Me foi dado a conhecer um grande homem sem reparos e profundamente bom)".
A história é uma grande professora!
As negociações finais foram encabeçadas pelo próprio duce. A Concordata estabeleceu os seguintes pontos fundamentais: 1) o Estado Fascista reconhecia a autonomia da hierarquia eclesiástica como uma sociedade auto-regulada e privilegiada dentro da sociedade nacional; 2) transferia do Estado para a Igreja o controle dos casamentos entre católicos; 3) Impunha o ensino obrigatório da doutrina católica em todos os centros de ensino secundários e nas escolas elementares. Além disso, o Estado reconhecia todas as organizações relacionadas com a Azione Cattolica - a principal instituição católica a atuar na sociedade civil.
O Vaticano ainda foi beneficiado com 750 milhões de liras a título de indenização pela perda dos estados pontifícios, ocorrida em 1861-2, bem como teve direito a usufruir de títulos de renda correspondentes a um bilhão de liras ao interesse de 5%.
Assim sendo, em fevereiro de 1929, o ditador italiano Benito Mussolini assinou um tratado com a Igreja Católica, selando a paz entre o Estado Italiano e a Santa Sé. O cardeal estava tão emocionado com o acontecimento que não pôde terminar a leitura da carta credencial, tendo-a passado a Eugênio Roncalli, o Secretário de Assuntos Extraordinários da Sagrada Congregação, que leu os documentos com voz mais firme. Encerravam-se, assim, quase quatro anos de delicadas negociações entre o Estado Fascista e a Igreja Católica, acertando-se que:
Em nome da Santíssima Trindade,
Atenta:
Que a Santa Sé e a Itália reconhecem que convém descartar toda causa de diferença existente entre as duas e de acertar um regulamento definitivo entre suas relações recíprocas que esteja de acordo com a justiça e a dignidade das duas Altas Partes, e que, assegurem à Santa Sé, de uma maneira estável, uma situação de fato e de direito que garantam a sua independência absoluta para que ela possa cumprir com sua elevada missão no mundo, permitindo a esta mesma Santa Sé reconhecer resolvida de maneira absoluta , de modo definitivo e irrevogável, a "Questão Romana", nascida em 1870 durante a anexação de Roma ao reino da Itália sob a dinastia Sabóia;
É preciso assegurar à Santa Sé a independência absoluta e visível. Garanti-la de uma soberania indiscutível no domino internacional, e que, por conseguinte, é preciso constar a necessidade de constituir, através de modalidades particulares, a Cidade do Vaticano, reconhecendo, sobre este território, a plena propriedade, o poder exclusivo, absoluto, e a jurisdição soberana da Santa Sé.
Os resultados imediatos foram tão satisfatórios que Pio XI exultou e não se conteve em afirmar que o duce havia sido enviado pela Providência, segundo suas próprias palavras: “Um homem era necessário como aquele que a providencia colocou em nosso caminho: um homem que não partilhasse as preocupações da escola liberal..." (Pio XI sobre Mussolini, 1929). Passados exatos 10 anos, a despeito de todos os absurdos praticados por Mussolini, o Papa reiterou: "Il più grande uomo da me conosciuto, e senz’altro tra i più profondamente buoni ( Me foi dado a conhecer um grande homem sem reparos e profundamente bom)".
A história é uma grande professora!
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