Por Antônio Carlos Costa, Presidente do Rio de Paz
"Essa foi uma época em que toda a Inglaterra trabalhou e se esforçou até o limite máximo e esteve mais unida do que nunca. Homens e mulheres esfalfavam-se nos tornos e máquinas das fábricas até caírem no chão, exaustos, e terem de ser arrastados para longe e mandados para casa, enquanto seus lugares eram ocupados por outros que já haviam chegado antes da hora... o sentimento de medo parecia ausente do povo, e seus representantes no parlamento não ficaram aquém deste estado de ânimo... muitíssima gente se mostrava decidida a vencer ou morrer".
O relato acima foi feito pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill, logo após o término da Segunda Guerra Mundial. Com profunda gratidão pela bravura do povo inglês, num período em que a Inglaterra encontrava-se solitária na resistência ao nazismo, o grande estadista inglês lembra-se daqueles dias em que sua pátria foi salva pelo suor, união e coragem do seu próprio povo. Não resta dúvida de que o nosso estado carece de uma mobilização desta natureza por parte da sociedade civil. A pergunta, contudo, que se nos apresenta é: o que houve com o povo do Rio de Janeiro? Por um lado há a perplexidade com a patologia social que enfrentamos. Nunca tantos foram mortos sem clemência. Nunca tantos mataram sem remorso. Mas o mal sociológico que enfrentamos não é apenas caracterizado pela prática ativa do crime, ele está presente também nos olhos secos dos que contemplam a dor de milhares de famílias e nos braços cruzados dos que são meros espectadores da calamidade que nos cerca.
Quando ando pelas ruas da nossa cidade, fico pensando no que pode ser feito para tirar o cidadão carioca da apatia em que se encontra. O que fazer para que ele passe a sentir? Ou canalizar o sentimento que existe para algo concreto e que transforme? Como conscientizá-lo do poder que tem de mudar a história desta cidade a massa que lota a Sapucaí, o Maracanã e a praia de Copacabana?Muito embora saiba que não está no homem o poder de transformar os sentimentos de uma pessoa, entendo que ninguém é mudado no campo das emoções enquanto não for mudado no campo da razão. A verdade liberta. Por isso, gostaria de levar os cidadãos da nossa cidade a considerarem os seguintes fatos:
1. Não devemos esperar a tragédia alcançar a nossa família para passarmos a agir. Fazer algo antes da dor nos atingir é sinal revelador de que não precisamos ser feridos na alma e na carne a fim de aprendermos a ser gente.
2. O jogo político-eleitoral tem minado a liberdade de ação dos nossos governantes. Muitos sabem o que devem fazer, mas não podem. Estão presos, sujeitos as táticas de intimidação dos que conhecem o caminho que aqueles tomaram para chegar ao poder. O Presidente da República, numa entrevista recente, disse que todos praticam esse jogo. Sem participação popular não haverá solução. Temos que acompanhar de perto as ações do governo, apoiá-lo em toda iniciativa que vise o cumprimento da constituição federal e defesa da vida, e não tolerarmos atrasos na peleja contra a barbárie ou cumplicidade com o crime.
3. O protesto nas ruas é um meio democrático e eficaz de transformação. Os franceses o chamam de "le pouvoir de la rue". O poder da rua. Nações desenvolvidas sabem disso e o praticam até hoje.
4. A organização da sociedade para a participação pacífica dá-se de modo simples. Igrejas podem participar. Não sei se há um lugar melhor para começar. Ali as pessoas já estão juntas. É só ter alma. Associações de moradores, uniões de estudantes e até torcidas de futebol podem ser organizar para a batalha em favor da vida.
5. Se nós do Rio de Janeiro nos organizarmos para o combate à violência, nossa afamada alegria não será vista como a alegria dos alienados e descerebrados.
Povos do passado, unidos, venceram conflitos mais graves do que os nossos. Nós cariocas estamos diante da possibilidade de fazer correr pelo mundo inteiro a notícia de que a batalha contra o crime na nossa cidade, foi vencida por um povo que não se reúne apenas para sambar, mas para lutar pela justiça e paz também.
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