quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A REFORMA PROTESTANTE

Atualmente é cada vez mais raro encontrar um cristão evangélico que conheça, de fato, a Reforma Protestante. A maioria não tem idéia do real significado da Reforma, simbolicamente memorada no dia 31 de Outubro. O teólogo luterano, Gottfried Brakemeier, nos diz que o “Dia da Reforma” é um dia comemorativo e programático. “Comemorativo, porque há uma história que precisa ser lembrada, e que apesar, de todos os seus descaminhos, possui aspectos instrutivos e não deixa de ser motivo de gratidão. Programático, porque deve estar na agenda da igreja como uma lembrança de uma urgência atual, que nos conclama à ação”.

A Reforma foi um movimento de retorno à sã doutrina, que propôs expurgar da igreja os ensinos e as práticas contrárias à Palavra de Deus. Embora tenha tido raízes e implicações políticas, econômicas e sociais, a Reforma foi essencialmente um movimento religioso. Longe de postular uma visão romanceada da Reforma, devemos reconhecer a sua enorme contribuição para a Igreja e para o mundo.

QUE CONTRIBUIÇÃO UM MOVIMENTO QUE ACONTECEU HÁ QUASE 500 ANOS PODE OFERECER A IGREJA DO SÉCULO XXI?

Nos séculos subseqüentes à Reforma até hoje, houve muitas mudanças no mundo, boas e ruins, grandes e pequenas. Mas quanto à condição moral espiritual e a corrupção doutrinária, a similaridade é impressionante. Na Idade Média, o culto às relíquias e outros elementos como meio de graça cresceu e tomou proporções incríveis. “Era possível comprar cera dos ouvidos e leite da Virgem Maria, estrume do burro do estábulo de Belém, fios de cabelo e da barba do Salvador” (Dreher). No Brasil do sincretismo religioso, floresce o misticismo pagão. Círculos que se dizem evangélicos são os primeiros a promover a Deforma da igreja, com seus ensinos e práticas estranhas à fé cristã. Hoje, os discípulos de Tetzel, o vendedor de indulgência do Papa Leão X, se multiplicam sonegando a graça que flui do Calvário.

A Reforma levantou cinco bandeiras que deveriam permanecer hasteadas em nossas igrejas como símbolos da fé evangélica. Os “cinco solas” da Reforma (Sola é um termo latino que significa somente) sintetizam as batalhas travadas pelos reformadores em favor do evangelho.


1. Sola Scriptura – Somente as Escrituras – Os reformadores reafirmaram a supremacia das Escrituras sobre a tradição. A Bíblia é a única regra de fé e prática. Nenhum dogma ou experiência pode ser aceito se não tiver base na Palavra de Deus. A Bíblia tem sofrido um duplo atentado. Há aqueles que tentam adicionar supostas novas revelações e há outros que de modo igualmente insano tentam fazer subtrações. O princípio Sola Scriptura é uma declaração da inspiração, autoridade, inerrância e suficiência das Sagradas Escrituras.

2. Solo Christus – Somente Cristo – A Reforma questionou a autoridade do papa sobre a Igreja e ousadamente declarou que nenhum homem pode substituir o Deus-Homem. A doutrina apostólica proclama a supremacia de Cristo como o nosso suficiente Salvador, nosso único Mediador e nosso soberano Rei. A cruz de Jesus Cristo é o coração do evangelho.

3. Sola Gratia – Somente a Graça – Os reformadores reafirmaram a doutrina bíblica da salvação pela graça. Somos merecedores de juízo e condenação, mas Deus, que é rico em misericórdia, susta o castigo que merecíamos e nos dá, graciosamente, a salvação. Somos justificados pela graça mediante a fé. Diferente do conceito romano, a graça não é um pó mágico que nos ajuda a viver melhor para ser aceitos por Deus. A graça é o amor incondicional aos que não merecem nada. Cristo morreu a nossa morte para vivermos a sua vida. Isso é graça.

4. Sola Fide – Somente a Fé – Os reformadores proclamavam a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. A salvação não é uma sinergia, como se houvesse alguma contribuição da parte do homem. A fé salvadora nunca é apresentada como algo inerente ao ser humano e de caráter meritório, mas sim como dom de Deus. A fé é o instrumento pelo qual recebemos o presente da salvação.

5. Soli Deo Gloria – Somente a Deus a Glória – Os reformadores reafirmaram a o ensino da Bíblia de que Deus não reparte sua glória com ninguém. Em uma época caracterizada por cultos antropocêntricos, a igreja precisa reavaliar o que significar dar glória a Deus.

A Declaração de Cambridge alerta: “Todas as vezes em que a autoridade bíblica é perdida na igreja, Cristo é despojado do seu lugar, o evangelho é distorcido, ou a fé é pervertida, a razão é uma só: nossos interesses substituíram os de Deus e estamos fazendo o trabalho à nossa maneira. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável”.

Ao olhar a realidade da igreja brasileira, devemos lamentar o triunfo das heresias nos púlpitos e o crescimento da espiritualidade gnóstica evidente nos cultos eivados de elementos do paganismo. Retornar as veredas antigas (Jr 6.16) é uma imperiosa necessidade para a igreja contemporânea.

Martin Lloyd-Jones está certo ao dizer que “a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás." Se a Igreja dependesse da fidelidade dos crentes, já estaria morta e sepultada. O Senhor Deus, no exercício da sua soberania por meio de sua santa e sábia providência usa os meios necessários para preservar a Igreja de Cristo. Por isso, Ecclesia reformata semper reformanda!
* Esse artigo foi publicado no Jornal Batista dessa semana (Edição 43).

2 comentários:

Westh Ney disse...

Ótimo artigo pastor. Li primeiro no O Jornal Batista on line. Enviei para meus contatos e lista que participo. Posso publicar no meu blog?
obrigada
westh ney

Judiclay Silva Santos disse...

Olá querida professora. Me recordo da irmã com muito carinho. Fui seu aluno no STBSB. Sempre lhe admirei. Pode sim publicar o artigo no seu blog. Um forte abraço.