segunda-feira, 31 de outubro de 2011

REFORMA PROTESTANTE!


Atualmente é cada vez mais raro encontrar um cristão evangélico que conheça, de fato, a Reforma Protestante. A maioria não tem idéia do real significado da Reforma, simbolicamente memorada no dia 31 de Outubro. O teólogo luterano, Gottfried Brakemeier, nos diz que o “Dia da Reforma” é um dia comemorativo e programático. “Comemorativo, porque há uma história que precisa ser lembrada, e que apesar, de todos os seus descaminhos, possui aspectos instrutivos e não deixa de ser motivo de gratidão. Programático, porque deve estar na agenda da igreja como uma lembrança de uma urgência atual, que nos conclama à ação”.

A Reforma foi um movimento de retorno à sã doutrina, que propôs expurgar da igreja os ensinos e as práticas contrárias à Palavra de Deus. Embora tenha tido raízes e implicações políticas, econômicas e sociais, a Reforma foi essencialmente um movimento religioso. Longe de postular uma visão romanceada da Reforma, devemos reconhecer a sua enorme contribuição para a Igreja e para o mundo.

QUE CONTRIBUIÇÃO UM MOVIMENTO QUE ACONTECEU HÁ QUASE 500 ANOS PODE OFERECER A IGREJA DO SÉCULO XXI?

Nos séculos subseqüentes à Reforma até hoje, houve muitas mudanças no mundo, boas e ruins, grandes e pequenas. Mas quanto à condição moral espiritual e a corrupção doutrinária, a similaridade é impressionante. Na Idade Média, o culto às relíquias e outros elementos como meio de graça cresceu e tomou proporções incríveis. “Era possível comprar cera dos ouvidos e leite da Virgem Maria, estrume do burro do estábulo de Belém, fios de cabelo e da barba do Salvador” (Dreher). No Brasil do sincretismo religioso, floresce o misticismo pagão. Círculos que se dizem evangélicos são os primeiros a promover a Deforma da igreja, com seus ensinos e práticas estranhas à fé cristã. Hoje, os discípulos de Tetzel, o vendedor de indulgência do Papa Leão X, se multiplicam sonegando a graça que flui do Calvário.

A Reforma levantou cinco bandeiras que deveriam permanecer hasteadas em nossas igrejas como símbolos da fé evangélica. Os “cinco solas” da Reforma (Sola é um termo latino que significa somente) sintetizam as batalhas travadas pelos reformadores em favor do evangelho.

1. Sola Scriptura – Somente as Escrituras – Os reformadores reafirmaram a supremacia das Escrituras sobre a tradição. A Bíblia é a única regra de fé e prática. Nenhum dogma ou experiência pode ser aceito se não tiver base na Palavra de Deus. A Bíblia tem sofrido um duplo atentado. Há aqueles que tentam adicionar supostas novas revelações e há outros que de modo igualmente insano tentam fazer subtrações. O princípio Sola Scriptura é uma declaração da inspiração, autoridade, inerrância e suficiência das Sagradas Escrituras.

2. Solo Christus – Somente Cristo – A Reforma questionou a autoridade do papa sobre a Igreja e ousadamente declarou que nenhum homem pode substituir o Deus-Homem. A doutrina apostólica proclama a supremacia de Cristo como o nosso suficiente Salvador, nosso único Mediador e nosso soberano Rei. A cruz de Jesus Cristo é o coração do evangelho.

3. Sola Gratia – Somente a Graça – Os reformadores reafirmaram a doutrina bíblica da salvação pela graça. Somos merecedores de juízo e condenação, mas Deus, que é rico em misericórdia, susta o castigo que merecíamos e nos dá, graciosamente, a salvação. Somos justificados pela graça mediante a fé. Diferente do conceito romano, a graça não é um pó mágico que nos ajuda a viver melhor para ser aceitos por Deus. A graça é o amor incondicional aos que não merecem nada. Cristo morreu a nossa morte para vivermos a sua vida. Isso é graça.

4. Sola Fide – Somente a Fé – Os reformadores proclamavam a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. A salvação não é uma sinergia, como se houvesse alguma contribuição da parte do homem. A fé salvadora nunca é apresentada como algo inerente ao ser humano e de caráter meritório, mas sim como dom de Deus. A fé é o instrumento pelo qual recebemos o presente da salvação.

5. Soli Deo Gloria – Somente a Deus a Glória – Os reformadores reafirmaram a o ensino da Bíblia de que Deus não reparte sua glória com ninguém. Em uma época caracterizada por cultos antropocêntricos, a igreja precisa reavaliar o que significar dar glória a Deus.

A Declaração de Cambridge alerta: “Todas as vezes em que a autoridade bíblica é perdida na igreja, Cristo é despojado do seu lugar, o evangelho é distorcido, ou a fé é pervertida, a razão é uma só: nossos interesses substituíram os de Deus e estamos fazendo o trabalho à nossa maneira. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável”.

Ao olhar a realidade da igreja brasileira, devemos lamentar o triunfo das heresias nos púlpitos e o crescimento da espiritualidade gnóstica evidente nos cultos eivados de elementos do paganismo. Retornar as veredas antigas (Jr 6.16) é uma imperiosa necessidade para a igreja contemporânea.

Martin Lloyd-Jones está certo ao dizer que “a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás." Se a Igreja dependesse da fidelidade dos crentes, já estaria morta e sepultada. O Senhor Deus, no exercício da sua soberania por meio de sua santa e sábia providência usa os meios necessários para preservar a Igreja de Cristo. Por isso, Ecclesia reformata semper reformanda!

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