sexta-feira, 19 de março de 2010

PULVERIZAÇÃO PROTESTANTE

O denominacionalismo é um mal protestante. Para sermos mais exatos, um mal protestante-americano, pois foi a partir dos Estados Unidos, com sua maravilhosa obsessão pela liberdade, que pequenas igrejas se separaram de grandes denominações protestantes, e tornaram o fenômeno do denominacionalismo presente no mundo inteiro.

O denominacionalismo resulta da quebra do monopólio da verdade que havia no século XVI -quando Martinho Lutero e os demais reformadores-, enfatizaram o direito de livre exame das Sagradas Escrituras por parte de qualquer membro da igreja de Cristo. O crente não teria que ficar a esperar a interpretação infalível do clero, a fim de conhecer o real significado da Bíblia.


Isso livrou a igreja de um terrível cativeiro. Representou a ruptura com a pré-modernidade. Homens e mulheres foram estimulados a não depender mais da autoridade de quem fala para se certificar da veracidade de uma proposição. Contudo, a subjetividade da interpretação de obra literária, associada ao orgulho humano, levaram o movimento protestante a se dividir em um número infindável de confissões teológicas.


Isso é um mal. Por que? Houve muita divisão em torno de pormenor doutrinário, levando a igreja a esquecer-se dos grandes motivos para se manter unida e lembrar-se dos pequenos motivos (injustificáveis) para se manter desunida.


Hoje, essa quebra do monopólio da Igreja Católica -que de uma certa forma não tinha com quem competir até Idade Média-, criou um verdadeiro mercado religioso, com cada igreja procurando apresentar o produto mais atraente para o consumidor -em detrimento da pureza do evangelho.


Valeu a pena a mudança operada pela reforma? Valeu. Não estamos mais nas mãos de um clero orgulhoso e muitas vezes desumano, capaz de adulterar o sentido da verdade, para desgraça espiritual de milhares de almas -incapazes de alçar sua voz contra a autoridade eclesiástica-, por causa da pretensa inspiração divina de homens falíveis. Essa ditadura do saber teológico é mais perniciosa do que a democracia intelectual protestante, porque esta deixa o espaço aberto para a constante reforma, enquanto aquela obstaculiza todo esforço de trazer a igreja de volta para a verdade revelada.

Por Antônio C. Costa
formspring.me/antoniocosta

Nenhum comentário: