SANTO
E PECADOR
Simult
Sanctor Et Peccator
Em 2 de outubro de 1840, Robert M. McCheyne escreveu uma carta de
encorajamento a um amigo missionário na Alemanha. Naquele memorável texto,
entre outras coisas, ele disse: “Não é tanto os grandes talentos que Deus
abençoa, mas uma grande semelhança com Jesus. Um ministro de vida santa é uma
tremenda arma nas mãos de Deus”. Subscrevo, integralmente, as palavras de
McCheyne. Homens santos abençoam vidas, sobretudo num contexto caracterizado
por tantas igrejas teologicamente confusas, moralmente fracas, socialmente
inoperantes e espiritualmente decadentes. Ministros santos são vitais na
reforma e avivamento da igreja; são bênçãos nas mãos de Deus.
Todavia, por melhor que seja um homem ele nunca deixa de ser homem.
Existem fraquezas, limitações e pecados. Homens santos não são anjos, mas
pessoas de carne e osso. O líder é alguém que simultaneamente é persona e
pessoa. A persona é a imagem que ele mesmo projeta de si, consciente ou não.
Persona é a imagem que é projetada sobre ele. Persona é a imagem, o virtual.
Por outro lado, a pessoa é a digital da alma, aquilo que se é por dentro. A
imagem nunca corresponde exatamente a realidade. Isso porque, todos ser humano,
afetado pela Queda, em graus variados, esconde quem é e apresenta uma imagem
idealizada de acordo com padrões aceitáveis. Não se trata de dupla personalidade,
duas caras. Estou falando de um ser que é uma amálgama de virtudes e vícios em
uma guerra intensa.
Penso que um dos desafios da igreja é lutar pela preservação da
humanidade pastoral. O pastor precisa ser gente de carne e osso e não uma
divindade com super poderes, temporariamente encarnada. Superestimar o pastor
fazendo dele uma divindade impecável do tipo “superman” é um erro grave de
consequencias perigosas tanto para o indivíduo quanto para a comunidade. De
igual modo, subestimar o pastor, fazendo com que ele se sinta tão somente um
objeto, uma peça no quebra cabeça da fé é um atentado com a própria igreja.
Lutero definiu o cristão como sendo “santo e pecador ao mesmo tempo”. Concordo.
Somos cinza; mistura de trevas e luz.
Se vocês me permitem uma metáfora poética. Somos lua porque Deus é sol.
A lua não tem luz própria; é sem vida, mergulhada em densas trevas. Mas por
causa do sol, a lua pode iluminar com intensa beleza e cumprir seu papel de
abençoar a terra. O evangelho não pretende divinizar pessoas, criando
semideuses. A obra de Cristo na cruz é o resgate da nossa verdadeira
humanidade. Como Davi, oro todos os dias “O Senhor, meu Deus, derrama luz nas
minhas trevas”(Sl 18.28).
Sete anos depois de ser ordenado pastor batista, reconheço que sou
apenas um santo pecador, salvo pela soberana graça de Deus, “tendo recebido
este ministério pela misericórdia” (2 Co 4.1). Posso dizer como John Newton:
“Não sou o que era; não sou o que devo ser; não sou o
que quero ser; não sou o que um dia espero ser;
mas graças a Deus não sou o que fui antes, e
é pela graça de Deus que sou o que sou”.
Judiclay S. Santos
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